domingo, 1 de novembro de 2015

O Rei Jumento - gotas e respingos de sabedoria

“Não pense de si mesmo além do que convém.”
Romanos 12:03

Tarde quente, sufocante, barriga empanturrada do PF do centro, buzinas, ronco de motores, muita fumaça, muitas pernas de gente e saco cheio de tédio, mas mesmo assim, com todos os protestos do corpo, inclinei-me, dobrando a coluna enferrujada, retorcendo as vértebras para apanhar no calçadão uma folha de jornal pisoteada pelos transeuntes cegos. Corri os olhos, virei à folha e lá estava o que sempre procuro - uma gota de sabedoria dando sopa. Gotas e respingos de sabedoria, encontro nos lugares mais insólitos: No lixo, nos balcões de bares, enfiados nos assentos dos ônibus públicos, voando sobre a minha cabeça por força do vento, nos banheiros fedorentos,...
Sabedoria é um elemento democrático, livre e acessível a todos, indiscriminadamente, ou seja, não importa se saiu da mente ou da boca de um rico ou de um pobre, de um gênio ou de um ignorante, o fato é que as fontes da sabedoria são isentas de preconceitos, de raça, de cor, de religião, de nível sócio-político-econômico, sexuais,... Mas, eu dizia, estava lá a gota de sabedoria que sempre alegra o meu intelecto e a minha alma. Você é amplamente livre para ler nos próximos parágrafos. Você decide, mas não fique com pena do Jumentinho:

 “E, indo os discípulos, e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima. E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho.” Mateus 21:06-08
 “Era o primeiro dia da semana, e um jumentinho andava vagarosamente pela estrada poeirenta. No seu lombo ele carregava um passageiro que nunca tinha carregado antes.
O jumento e seu passageiro tinham deixado Betânia naquela manhã e eram acompanhados por homens que viajavam a pé. Agora, algumas horas mais tarde, eles passaram pela encosta do monte das Oliveiras e chegaram à cidade radiante de Jerusalém.
De repente, o animal ficou surpreso com os gritos da multidão à medida que se aproximavam dos portões. Logo o jumento percebeu que ele era o centro das atenções. Eles estão olhando para mim, disse a si mesmo. Levantou a cabeça e olhou para os rostos sorridentes que olhavam para ele, - Eles estão sorrindo para mim! Pensou.
Um homem tirou a sua túnica e a estendeu no caminho do jumento. Uma mulher tirou o seu xale e o estendeu na estrada. Logo, as crianças começaram a deitar ramos das árvores pelo caminho, tornando-o um tapete macio e limpo para os seus cascos. Eles estão me honrando como se eu fosse um rei! O jovem jumento pensou.  Ele ficou todo orgulhoso. Eles estão cantando para mim. Ah! Que maravilha! Eu sou maravilhoso!
Quando o cortejo chegou às escadarias do templo, a multidão ficou quieta. Por que eles pararam? Indagou o jumento. O louvor tem de continuar!
Foi então que o jumento percebeu, chocado, que os gritos não eram para ele. Seu passageiro desmontou e subiu os degraus do templo. A multidão o seguiu, deixando o jumento sozinho na rua, amarrado a um poste. Eu devia ter me sentido honrado, percebeu o jumento, de ter carregado no humilde lombo o homem chamado Jesus, mas eu estava tão convencido com o que eu achava ser a minha importância que não apreciei a honra que eu tinha recebido.
Imagine! Um jumento recebendo o louvor e a adoração que pertencia a Jesus! Que ridículo! Que arrogante!
Nós humanos, porém, cometemos o mesmo erro. Nós nos tornamos orgulhosos e achamos que somos o máximo.
Deus ordena: “Não pense de si mesmo além do que convém”. Deus sabe que nossa tendência é deixar-nos levar a receber crédito por coisas que não fizemos. Qualquer atitude orgulhosa que temos nos impede de apreciar as coisas que Deus nos deu. Deus valoriza a humildade.”
*(Trecho extraído do: Informativo O Semeador – Ano 1 – nº. 6 – bimestral julho/agosto – 2006. (Penha) SP.)

Quem pode afirmar que não pensa de si mesmo, mais do que convém?
Eu penso. Penso mesmo, não vou negar. Não vou mentir a mim, mesmo. Quem fala a verdade não merece castigo e não serei mentiroso. Todos os dias, acordo me achando, entro no metrô lotado empurrando a todos porque eu preciso de espaço. “Estou sempre me achando.” Mesmo quando sou obrigado a pedir favores a outrem, eu me acho o “todo-todo”. Jogo uma toalha descuidada sobre o meu orgulho, sobre o meu convencimento e peço o favor. Claro, se não tem outro jeito! Depois é só puxar a toalha e tudo é glória pessoal. É verdade! Gostaria de dizer o contrário! E quer saber mais? Até em dizer essas verdades do meu próprio interior, já me sinto orgulhoso e sábio, mais que os outros. Poder, orgulho, soberba, egoísmo, arrogância, é muito mais que uma taça do elixir dos deuses; muito mais que uma orgia com as mais lindas e atraentes mulheres. Tudo isso leva a sensação de poder e, poder é o atributo natural de Deus. A natureza do homem é ambicionar a divindade.
Aconteceu lá, em pleno cenário do céu, com o querubim Lúcifer – a luz das esferas – a pedra brilhante dos jardins dos céus, o mais poderoso e inteligente e, o final foi a sua irrevogável e irretratável expulsão das mordomias celestiais, que resultou na queda para o inferno da matéria sem luz.
Sou eu, mais forte que Lúcifer, quando no seu estado de anjo do bem? Eu, humano, escravo e residente de uma matéria física escura, inconsciente das minhas próprias origens; sou eu, mais resistente ao assédio do poder, do orgulho, da ambição desmedida, da arrogância, da luxúria,...mais resistente que Lúcifer?
Para lembrar que o mal não compensa, tento não esquecer que, mesmo com todo o seu poder e glória, a recompensa por não resistir ao mal, foi o exílio no inferno. O tal “lago de enxofre que arde dia e noite”, as “trevas exteriores”, onde se ouvem” prantos e rangeres de dentes” . – “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. (Apocalipse 20 : 10)

Quem quer ir para o inferno? Você quer? Eu não quero. Eu não sou besta! Besta ou Jumento, é a mesma coisa. Veja o que diz o Aurélio, aquele que pensa que sabe mais que os outros: Besta: Quadrúpede (Mula, Jumento); Pessoa muito curta de inteligência; Indivíduo pretensioso, pedante, presunçoso; Metido a besta, cheio de empáfia; vaidoso; convencido e pretensioso.
Na verdade, tudo isso você pode resumir em uma só frase: Aquele que pensa de si além do que realmente é.

Josué

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