quinta-feira, 1 de janeiro de 2015



O Cordel escolhe o cordelista
e o cordelista escolhe o caminho.

Com o apoio cultural da editora Luzeiro, a Magazine Gibi lança o primeiro volume de uma série
“A saga dos vampiros” escritas por Josué Gonçalves de Araújo em parceria com Nirothon Pereira (Nirothon José Cardoso Pereira) residente no Pará. Não se conhecem pessoalmente. Niro o encontrou através das redes sociais da internet. Com esse livro, Nirothon entra para o mundo dos cordelistas através dessa fecunda parceria. A primeira ideia foi criar uma saga com os entes encantados da natureza mas depois de escrita, ainda restava muito fôlego para a dupla. Daí surgiu a ideia da saga dos vampiros. Os vigilantes saíram de férias e chegaram os vampiros no cenário da vila do Araí.

SOBRE A SAGA: Os vigilantes da natureza

Lembro-me lá da região do Pontal do Paranapanema, quando, ainda garoto, saí de uma mata totalmente desorientado, após ter atirado num pássaro que era impróprio para a alimentação. Queria provar ao meu primo que era bom atirador. Só cheguei em casa porque o meu primo segurou a minha mão e me carregou. Segundo os mais velhos, eu havia sido castigado pelo Saci, Curupira, Caipora ou coisa semelhante, seres encantados que protegem a natureza.

Não é interessante que esses causos de seres encantados que se ouvem falar por boca de muitas pessoas, sempre tem algo em comum? Defesa da natureza! Todos esses entes, de certa forma, têm a função de proteger a natureza dos predadores. São muitos os relatos de caçadores que não respeitam a natureza e que sofrem alguma punição ou aos seus próprios cães de caça que, desorientados, apanham de uma chibata invisível.

Tinha em mente o intuito de escrever sobre a magia dos Elementais, interagindo com o nosso povo. Uma série em Cordel sobre esses entes encantados, heróis, guardiões da natureza. Pensei em viajar para um lugar onde houvesse evidência desses acontecimentos. Ouvir as pessoas da região e obter relatos, inclusive de possíveis vítimas. De repente o Nirothon, lá do Pará, se apresentou a mim, através da internet.

Um leitor de Cordel, que desde a infância, reuniu em sua coleção, mais de 300 livretos de Cordel, e que viveu e vive ainda, no Pará, integrado a natureza, onde os fatos acontecem.  Niro demonstrou possuir uma imaginação fértil para a criação de histórias de seres encantados.
Niro demonstrou flexibilidade e ânimo. Tinha em sua memória um arsenal de casos fantásticos e sonhava em ser um cordelista. Entender as regras da métrica e rima do Cordel. Juntamos tudo isso num pacote. A ideia de uma parceria começando com o projeto da saga: “Os vigilantes da natureza em Cordel”. Depois de definido o projeto, as criações aconteciam tomando forma. A princípio definimos todo o projeto em uma trilogia, mas as ideias continuavam e por fim, ampliamos para sete volumes, com a sensação de que poderíamos criar mais outros volumes sobre o assunto e foram escritos mais de dez volumes. Informações transitavam daqui pra lá, de lá pra cá, gerando uma sincronia cada vez mais perfeita, entre nós. A noite, ouvia do celular do Niro, a sinfonia dos sapos e pererecas do lago à beira do seu trabalho. A minha mente voava e ao revisar um simples rascunho - histórias e histórias nasciam dentro da história principal. Niro tinha a preocupação de observar e aperfeiçoar o uso das regras do Cordel, para desenvolver melhor o seu talento de criatividade. A medida em que estreitávamos a relação de parceria, eu ampliava a admiração pela sua genialidade. O cordelista dentro dele, aos poucos se aflorava, procurando o ponto de equilíbrio com o gênio criativo. O processo de criação de histórias com Niro era estimulante. Eu me sentia o mestre e o discípulo, simultaneamente. Também fui fisgado pelo Cordel na infância.
Minha Avó, analfabeta mas de boa audição, de tanto ouvir e decorar os tais romances de cordel, foi (como uma professora) quem me despertou e me apontou o caminho dos livros, da literatura, da poesia, do escritor cordelista que me tornei, enfim... “O caminho seguro do conhecimento”.
Aos 6 anos de idade descobri a literatura, ao ouvir da boca da minha Avó, em versos de cordel, a “História do Valente João Acaba Mundo e a Serpente Negra”, do saudoso cordelista Minelvino Francisco Silva - (1926-1998).

Se os olhos da vovó se negavam a ler e as mãos cegas a escrever, restava-lhe os ouvidos para ouvir e aprender.

Hoje, algumas daquelas pessoas ouvintes, são escritores – como eu -, outras são professores e até ilustres da literatura brasileira, com fama internacional.
Atualmente, em nosso Brasil com menor índice de analfabetismo, o Cordel continua presente em muitos livros paradidáticos, adotados para serem trabalhados em escolas públicas ou eventos culturais.      

A SAGA:
“Os entes encantados da natureza”
(Inspirado nos “causos” folcloricos da Amazônia)

Ainda sem título definido. É uma série em volumes no forma­to padrão do Cordel.
“Da mesma forma que o cordel, nas décadas passadas, escrito sob o princípio da oralidade, fluiu coletivamente, alegrando e encantando, educando, despertando talentos e provocando sonhos, assim é, os contos e fábulas infantis para o mundo das crianças e ou adultos. Transformar esses contos, lendas e fábulas em versos de cordel é potencializar os benefícios e objetivos dessa forma de expressão literária, no intuito de incentivar as pessoas, além de conhecer e gostar de literatura através das regras e do gracejo do Cordel, chamar atenção para a necessidade da preservação ambiental. Os entes en­cantados vistos como vigilantes e defensores da natureza.”

PLANO DA OBRA - A saga:
Volume I – A Gênese Elemental
Volume II – A Sina da Mãe D’Água.
Volume III – A Matinta Pereira, Saci Pererê e Curupira...
Volume IV – O Reino do Olho D’Água’.
Volume V – Sarambuí.
Volume VI - Refúgio dos Guardiões.
Volume VII – Batalha dos Guardiões.
...são mais de 10 volumes já escritos.



Sinopses:
Do Livro II - A SINA DA MÃE D’ÁGUA - CORDEL
...
“Aconteceu no Pará,                     
Na antiga Urumajó,
Mas hoje, Augusto Correa,
Onde o sol queima sem dó,
Moça lá, vira Mãe D’água,
Se estiver dormindo só.”
...
“Mãe-d’água”, é uma entidade do folclore brasileiro. Além de uma bela história em versos de cordel, a figura folclórica da Mãe d’água, é empregada como uma entidade de proteção ao meio ambiente e ganha uma nova versão para as suas origens.
...
Duas lágrimas rolaram
Pelas faces de Glorinha,
Quando falou a Mãe D’Água:
— Sendo eu pequenininha
Diante da sua grandeza,
Posso dar-lhe uma mãozinha?

— Minha querida menina,
Há somente dois caminhos:
Unir-se aos mais conscientes
Que lutam sempre sozinhos,
Enfrentando o próprio homem
Com todos os seus espinhos...

Ou se tornando maior
Para melhor proteger.
Sendo você a Mãe D’Água,
Ganha um enorme poder,
A magia necessária
Para os rios, defender.
...
Do Livro IIIA Matinta Pereira, Saci Perere e o Curupira
...
“O povo não pode vê-lo
Pois o reino é encantado,
Mas todos ouvem histórias
Desse reino respeitado,
E o mistério só aumenta
Na história do povoado.”
...
A história da primeira Matinta Pereira, a mulher que se transforma em pássaro e solta um forte assobio que assombra os maus caçadores, inclusive as suas origens em um reino encantado dentro de uma fonte, banhada pelo mar, todas as manhãs. Nesse cenário, também surge as figuras do Saci Pererê e o Curupira, ambos de reinos distintos, envolvidos na deflagração de uma guerra entre os reinos. Revela-se nessa história o porquê do Saci ter somente uma perna e o Curupira os pés virados para trás, com a missão de proteger a fauna.
...
“Matinta ficou acesa
Com a ideia de ser gente,
Mas de repente tremeu,
Sentiu medo de repente.
Num mundo, assim sem magia,
A vida é bem deprimente.”
...

...
“Mais aqui vamos contar
Uma história de amor,
Da princesa encantada
E o humano sonhador.
Amor de mundos distintos,
Digno de todo louvor.”
...
Uma trama fascinante onde o amor cruza as fronteiras do mundo encantado e se torna presente no mundo real. Flechar, mortalmente, um sapo cururu encantado sobre uma pedra, provocou uma história de vingança entre um reino encantado e a família do menino caçador, no mundo dos humanos. Intriga, magia e amor interagindo entre os dois mundos.
...
“Do mesmo jeito que o sapo,
Lá no seu reino gemia,
O menino em sua casa
Da mesma forma sentia.
Cada dor era sentida
Em perfeita sincronia.”
...

SOBRE A SAGA: Os Vampiros
A história das duas sagas acontece na cidade natal de Niro –cidade de Augusto Correia –PA na vila do Araí. Nessa vila tinha um olho d’água que em parte do dia era banhada pelo mar e na outra metade do dia, voltava a ser uma fonte de água doce. A maré trazia os mistérios das águas do mar para a mina de água doce. Muita superstição se originou nas águas dessa fonte. Niro registrou tudo em sua mente e nessa parceria procuramos dar vida a esses personagens e criamos muitos outros para formar a saga dos vigilantes, mas no caso da saga dos vampiros, usamos apenas o mesmo cenário, mas as ideias e os personagens são, totalmente, criados pela parceria. Magia, encantamento, vampiragem, aventura, amor, filosofia...tudo acontece nessa saga, mas cada volume tem início meio e fim como qualquer saga. Cada volume tem 32 paginas

A SAGA DOS VAMPIROS
Volumes:
VAMPIRO - VOL. 1 – Depressão Sombria
VAMPIRO - VOL. 2 - Os grimórios da feiticeira
VAMPIRO - VOL. 3 - A maldição do sangue
VAMPIRO - VOL. 4 - A bruxa do leste

VAMPIRO – Depressão Sombria (Lançado)

Lá na Vila do Araí,
A terra da fantasia,
Tem mistério até demais.
Já pensam em romaria
Só por causa de uns boatos,
De vampiro e de magia.

Excluindo esses mistérios,
É tranquilo o povoado!
O trabalho é só de pesca,
Ou então é de roçado.
A vida lá é serena,
O povo é bem sossegado.

Energia elétrica, lá,
Era até as dez, somente,
Depois disso a lamparina
Clareava o ambiente.
Os velhos contavam contos
Nas noites de tempo quente.

No terreiro em frente a casa,
Sob a lua prateada,
Contavam causos e causos
De princesa encantada.
De herói e cangaceiro,
Assustando a meninada.

Os romances de cordel:
Peleja de Riachão,
O pavão Misterioso,
Juvenal e o Dragão,
As Proezas de João Grilo,
José de Souza Leão.

De forma que todo o povo
Convivia acomodado,
Até que em certa noite
Tudo foi modificado.
Um fato misterioso
Deixou o povo assombrado.
...

...
Damiem se despertou
Numa estranha região.
A visão estava turva,
Seu corpo frio no chão,
Do que havia se passado
Não tinha recordação.

No céu a lua brilhante,
Na terra a relva orvalhada,
Damiem pôs-se de pé
Com uma sede danada.
Sentiu a força do corpo
De forma demasiada.

Olhando ao redor não viu,
Ao menos, um viajante.
O seu ouvido captou
O som de um lugar distante.
Dentes mastigando folhas,
Um animal ruminante.

Damiem saiu correndo
No rumo do animal.
Corria mais que o vento
Isso não era normal.
Agarrou aquele cervo
Com força descomunal.

Cravou as presas no bicho
E todo o sangue bebeu.
Sentiu-se fortalecido,
Porém nada entendeu,
Pois bebeu somente o sangue
Mas o resto não comeu?
...
Não percam ... as emoções do próximo episódio.
... As revelações surpreendentes de Socorro.

Esse foi o caminho do Nirothon. Outros livros da parceria serão lançados e outros de carreira solo também serão lançados por ele. Niro tem imaginação dos antigos cordelistas e tem humildade para aprender (virtude dos sábios) as regras seculares do cordel. O Cordel não existe sem as suas regras. Seja bem-vindo Poeta Nirothon.
Josué G. de Araújo



Nirothon José Cardoso Pereira
Casado, pai de três filhos. Filho: de José Pinheiro Pereira (pescador) e Maria de Fátima Cardoso Pereira (professora). Nasceu na vila Araí, Augusto Corrêa, Pará em 02/11/1976.
Estudou na escola Emiliano Picanço da Costa na própria vila Araí.
Seu Pai era um leitor assíduo dos folhetos de Cordel e foi dessa forma que Nirothon, desde a infância, descobriu o mundo do Cordel, através dos livretos da coleção do pai, mesmo antes de aprender a ler. Provavelmente aos 7 anos já começou a ler o Príncipe Formoso, Histórias de encantamento, princesas, aventura por amor. Quando saiam para pescar, as vezes, por até uma semana, a única diversão dos pescadores eram os romances de cordel. Após, os 15 anos de idade, iniciou a sua própria coleção de cordel, que hoje já conta com mais de 300 títulos, na maioria, livros da editora Luzeiro.
De tanto ler Cordel, despertou em si, o dom de inventar histórias de encantamento. Ao conhecer o cordelista Josué de São Paulo, tiveram a ideia de se unirem para desenvolver histórias, se apropriando de lendas com belos enredos, que pudessem visar a proteção do meio ambiente. A história da Mãe d’água foi a primeira da série, a ser escrita. Com o primeiro volume da saga “Vampiros em cordel”, se lança como escritor em parceria com Josué, escritor cordelista da editora Luzeiro em São Paulo. 


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