domingo, 1 de novembro de 2015

O Rei Jumento - gotas e respingos de sabedoria

“Não pense de si mesmo além do que convém.”
Romanos 12:03

Tarde quente, sufocante, barriga empanturrada do PF do centro, buzinas, ronco de motores, muita fumaça, muitas pernas de gente e saco cheio de tédio, mas mesmo assim, com todos os protestos do corpo, inclinei-me, dobrando a coluna enferrujada, retorcendo as vértebras para apanhar no calçadão uma folha de jornal pisoteada pelos transeuntes cegos. Corri os olhos, virei à folha e lá estava o que sempre procuro - uma gota de sabedoria dando sopa. Gotas e respingos de sabedoria, encontro nos lugares mais insólitos: No lixo, nos balcões de bares, enfiados nos assentos dos ônibus públicos, voando sobre a minha cabeça por força do vento, nos banheiros fedorentos,...
Sabedoria é um elemento democrático, livre e acessível a todos, indiscriminadamente, ou seja, não importa se saiu da mente ou da boca de um rico ou de um pobre, de um gênio ou de um ignorante, o fato é que as fontes da sabedoria são isentas de preconceitos, de raça, de cor, de religião, de nível sócio-político-econômico, sexuais,... Mas, eu dizia, estava lá a gota de sabedoria que sempre alegra o meu intelecto e a minha alma. Você é amplamente livre para ler nos próximos parágrafos. Você decide, mas não fique com pena do Jumentinho:

 “E, indo os discípulos, e fazendo como Jesus lhes ordenara, trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima. E muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho.” Mateus 21:06-08
 “Era o primeiro dia da semana, e um jumentinho andava vagarosamente pela estrada poeirenta. No seu lombo ele carregava um passageiro que nunca tinha carregado antes.
O jumento e seu passageiro tinham deixado Betânia naquela manhã e eram acompanhados por homens que viajavam a pé. Agora, algumas horas mais tarde, eles passaram pela encosta do monte das Oliveiras e chegaram à cidade radiante de Jerusalém.
De repente, o animal ficou surpreso com os gritos da multidão à medida que se aproximavam dos portões. Logo o jumento percebeu que ele era o centro das atenções. Eles estão olhando para mim, disse a si mesmo. Levantou a cabeça e olhou para os rostos sorridentes que olhavam para ele, - Eles estão sorrindo para mim! Pensou.
Um homem tirou a sua túnica e a estendeu no caminho do jumento. Uma mulher tirou o seu xale e o estendeu na estrada. Logo, as crianças começaram a deitar ramos das árvores pelo caminho, tornando-o um tapete macio e limpo para os seus cascos. Eles estão me honrando como se eu fosse um rei! O jovem jumento pensou.  Ele ficou todo orgulhoso. Eles estão cantando para mim. Ah! Que maravilha! Eu sou maravilhoso!
Quando o cortejo chegou às escadarias do templo, a multidão ficou quieta. Por que eles pararam? Indagou o jumento. O louvor tem de continuar!
Foi então que o jumento percebeu, chocado, que os gritos não eram para ele. Seu passageiro desmontou e subiu os degraus do templo. A multidão o seguiu, deixando o jumento sozinho na rua, amarrado a um poste. Eu devia ter me sentido honrado, percebeu o jumento, de ter carregado no humilde lombo o homem chamado Jesus, mas eu estava tão convencido com o que eu achava ser a minha importância que não apreciei a honra que eu tinha recebido.
Imagine! Um jumento recebendo o louvor e a adoração que pertencia a Jesus! Que ridículo! Que arrogante!
Nós humanos, porém, cometemos o mesmo erro. Nós nos tornamos orgulhosos e achamos que somos o máximo.
Deus ordena: “Não pense de si mesmo além do que convém”. Deus sabe que nossa tendência é deixar-nos levar a receber crédito por coisas que não fizemos. Qualquer atitude orgulhosa que temos nos impede de apreciar as coisas que Deus nos deu. Deus valoriza a humildade.”
*(Trecho extraído do: Informativo O Semeador – Ano 1 – nº. 6 – bimestral julho/agosto – 2006. (Penha) SP.)

Quem pode afirmar que não pensa de si mesmo, mais do que convém?
Eu penso. Penso mesmo, não vou negar. Não vou mentir a mim, mesmo. Quem fala a verdade não merece castigo e não serei mentiroso. Todos os dias, acordo me achando, entro no metrô lotado empurrando a todos porque eu preciso de espaço. “Estou sempre me achando.” Mesmo quando sou obrigado a pedir favores a outrem, eu me acho o “todo-todo”. Jogo uma toalha descuidada sobre o meu orgulho, sobre o meu convencimento e peço o favor. Claro, se não tem outro jeito! Depois é só puxar a toalha e tudo é glória pessoal. É verdade! Gostaria de dizer o contrário! E quer saber mais? Até em dizer essas verdades do meu próprio interior, já me sinto orgulhoso e sábio, mais que os outros. Poder, orgulho, soberba, egoísmo, arrogância, é muito mais que uma taça do elixir dos deuses; muito mais que uma orgia com as mais lindas e atraentes mulheres. Tudo isso leva a sensação de poder e, poder é o atributo natural de Deus. A natureza do homem é ambicionar a divindade.
Aconteceu lá, em pleno cenário do céu, com o querubim Lúcifer – a luz das esferas – a pedra brilhante dos jardins dos céus, o mais poderoso e inteligente e, o final foi a sua irrevogável e irretratável expulsão das mordomias celestiais, que resultou na queda para o inferno da matéria sem luz.
Sou eu, mais forte que Lúcifer, quando no seu estado de anjo do bem? Eu, humano, escravo e residente de uma matéria física escura, inconsciente das minhas próprias origens; sou eu, mais resistente ao assédio do poder, do orgulho, da ambição desmedida, da arrogância, da luxúria,...mais resistente que Lúcifer?
Para lembrar que o mal não compensa, tento não esquecer que, mesmo com todo o seu poder e glória, a recompensa por não resistir ao mal, foi o exílio no inferno. O tal “lago de enxofre que arde dia e noite”, as “trevas exteriores”, onde se ouvem” prantos e rangeres de dentes” . – “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. (Apocalipse 20 : 10)

Quem quer ir para o inferno? Você quer? Eu não quero. Eu não sou besta! Besta ou Jumento, é a mesma coisa. Veja o que diz o Aurélio, aquele que pensa que sabe mais que os outros: Besta: Quadrúpede (Mula, Jumento); Pessoa muito curta de inteligência; Indivíduo pretensioso, pedante, presunçoso; Metido a besta, cheio de empáfia; vaidoso; convencido e pretensioso.
Na verdade, tudo isso você pode resumir em uma só frase: Aquele que pensa de si além do que realmente é.

Josué

sábado, 10 de outubro de 2015

MACUNAÍMA - O herói sem nenhum caráter (Cordel) - Adaptação: Josué G. de Araújo

Foto: Encontro com Pascoal de Conceição que subiu ao palco do auditório da Academia Paulista de Letras para encerramento das homenagens a Mário de Andrade, realizados pelas Academias estudantis de letras das escolas, com apoio da secretaria municipal da educação.

Minhas homenagens em Cordel:
Setenta anos 
sem Mario de Andrade
(Josué G. de Araújo – 09/10/2015)


“Garoa do Meu São Paulo”   
Projete Mário de Andrade
E as cenas da Pauliceia
Com sua modernidade,
Para eu compor um Cordel
Contando só a verdade.
      
Mario de Andrade nasceu
No ano noventa e três,
Lá no século dezenove.
Repleto de altivez,
Foi “um escritor difícil”,
Brilhando na “escuridez”.

Aos dez anos de idade
Fez um poema-canção,
Mas a mãe fez um muxoxo
Com a primeira criação.
Isso não atenuou
Seu ânimo na vocação.

A torre da velha era,
Mário não a implodiu,
Contudo, outra imponente,
Sobre os ombros, erigiu: 
As bases do modernismo
Que a Pauliceia aplaudiu.
  
O passado para Mário
É espelho, reflexão,
Mas jamais um instrumento
De uso e repetição.
Para frente é que se anda,
O novo é evolução!

“Meu São Paulo da garoa”,
Mário é verbo intransitivo,
Completo sem complemento,
Futurista, intuitivo.
Pauliceia Desvairada
É obra desse inventivo!

As obras falam por si:
Moda: “Viola quebrada”  
Livro: “Lira Paulistana”.
Sua obra consagrada,
“Macunaíma”, o herói,
Nas telas, foi projetada.

Nos versos do Futurista,
Poeta Mário de Andrade:
 “Ver arte contando história,"
“São glórias desta cidade. ”

Quando um povo não tem glória,
Arte é celebridade!

Carente de ser amado,
Impunha-se combativo.
Intelectualmente, o Mário
Foi um ser hiperativo:
Sua alma, sua arte,
Polêmico e criativo.
  
Decepção na política,
Amargura e injustiça,
Vislumbre do ”mal du siècle”.
Sorriu do: "Ai, que preguiça!"
E na torre de marfim
Encontrou sua própria liça.

Vinte e cinco, nesse dia,
No verão em fevereiro
Do ano quarenta e cinco,
Nós perdemos o guerreiro:
O Alfa do modernismo
No Brasil do brasileiro.

Da nossa literatura,
Alguém disse uma verdade:
Morte semelhante a essa,
Íntegra em acuidade,
Só de Machado de Assis,
Pleno em genialidade.

Fui Brás Cubas, Dom Casmurro,
Do mestiço pioneiro.  
Vi a invasão da saúva
Com ferrão de cangaceiro.
Vi crescer Macunaíma
Com a cara de brasileiro.

O Cordel é interessante,
Literário com certeza.
Apesar de secular
Com regras, rima e beleza,
Não adentrou à elite
Por nascer entre a pobreza!

Nosso Cordel Brasileiro
Nascido na Paraíba,
Leigos dizem que é “estranja”,
Bagagem do caraíba!
Chamam macaco de “singe”,
“Mas não sabem o que é guariba? ”

O Poeta é inserido
Pela arte do destino
Que a vida lhe atribui,
Na idade de menino.
Se a poesia o escolhe
É arranjo do divino.

“Meu São Paulo da garoa”,
Já se passaram setenta,
Dos verões sem o poeta.
Nosso povo, ainda, tenta
Vencer esse Jereré
E livrar-se da tormenta.

Setenta anos sem Mário,
O poeta modernista,
As saúvas majoraram,
Sem o carão do romancista!
Também, verso, rima e métrica,
Tem se ampliado na lista.

Oxalá, que a Pauliceia,
Mais outro Paulista invente
Com verve igual a de Mário,
E o espírito eloquente,
Que nos livre do marasmo,
Renovando o presente!
***
Hoje dia 09 de outubro comemora-se o aniversário de Mário de Andrade. Após os 70 anos da sua morte, resolvi fazer uma adaptação da sua obra: Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.

MACUNAÍMA - O herói sem nenhum caráter (Cordel)
Adaptação: Josué Gonçalves de Araújo

No fundo do mato-virgem,
Macunaíma nasceu
As margens d’Uraricoera.
Nenhum murmúrio, se deu
Quando a Índia Tapanhumas
Pariu o filho e gemeu.

Indiferente, ela olhava
Aquele negrinho feio,
Olhando torto pra ela
Com a cara de aperreio.
Chorou e ficou de pé
Tentando sugar-lhe o seio.

O nome Macunaíma,
Ima é “grande”, maku é “mau”,
Bom e mau, covarde e bravo...
Um elemento dual:
Sendo incapaz e capaz,
Faz o bem e faz o mal.

Já na sua meninice
Revelou a sua cobiça
Por todo e qualquer vintém.
O trabalho era injustiça,
Só quis falar com seis meses,
Quando disse: — “Ai que preguiça!”

“Dandá pra ganhar vintém”,
Só assim, era ligeiro.
Se lhe mostrasse moeda,
Qualquer forma de dinheiro,
A preguiça era esquecida,
Ele chegava primeiro.

Já antes da puberdade
Tinha sonhos infernais:
Maracutaia e mulheres
Eram temas naturais,
Não demonstrava respeito
Pelos princípios morais.

À noite lá no mucambo,
Perseguia as indiazinhas.
Dormia no macuru
Sempre dando as mijadinhas!
A mãe na rede, abaixo,
Sentia as gotas quentinhas.

Nos machos, a cusparada,
Mas os velhos, respeitava.
A murua, a poracê,
O danado frequentava,
Torê e bacorocô,
As danças, ele dançava.

O idoso Maanape,
Era o sábio feiticeiro,
Irmão de Macunaíma;
Jiguê, o irmão arqueiro,
Perdia as suas mulheres
Para o irmãozinho arteiro.

A esposa de Jiguê
Levou o piá ao mato,
Escanchado na cacunda,
Até a beira d’um regato.
Ao deitá-lo na taioba
Virou um moço pacato.

Sofará se encantou
Com a magia do cunhado.
As biguatingas voavam
Sobre o igarapé ao lado.
À noite, a mulher voltou
Com o piá aloprado.

...continua...Aguardem o lançamento!





domingo, 4 de outubro de 2015

Lançamento de novos livros de Cordel pela Editora Luzeiro e Magazine gibi



Já nos sites da Editora Luzeiro e da Magazine gibi, 4 novos livros de Cordel.
Zé Heitor Fonseca do Rio Grande do Sul com "Churrasco de Cachorro", José Nascimento com "O Lutador de MMA e a borboleta", escritor se lançando lá de Alagoas, Varneci Nascimento com os sofrimentos dos passageiros na Sampa - "No Ônibus é assim" e eu com "O País Kastoriano contra o Império do fogo".

Editoras: http://www.editoraluzeiro.com.br/
e http://www.magazinegibi.com.br/

Poesia ou Música? Ninguém segura a inspiração!

Porteira do tempo
(Josué G. de Araújo)

Eu cantei lá na porteira
Onde o meu amor passou.
Só parei a cantoria
Quando o tempo anunciou

Que andorinha que é migrante
Quando vai o tempo trás,
Maracanã avoante
Voa longe e o ninho faz.

Esse cinza da porteira,
Cor do tempo sem idade.
O ferrolho enferrujado
Não é só da umidade.
É o molhar das minhas lágrimas
Quando eu canto de saudade.

domingo, 13 de setembro de 2015

"DE TODO VERDE DAS MATAS" - do poeta e Cordelista Josué G. de Araújo



DE TODO VERDE DAS MATAS
Sonhando, sonhei um dia,
Por obra da inspiração,
Escrever uma poesia,
Que tocasse o coração:
Com versos todos rimados,
De amor dos bem-amados,
Ternura e muita paixão!
De todo verde da vida,
Do azul do céu estrelado,
Do jovem esperançoso,
Sonhando sempre acordado,
Fazendo o mundo da gente,
De toda gente decente,
O nosso mundo sonhado.
Das aves cantando livres
Em abundante ar puro;
Da caminhada dos jovens,
Pisando os pés no futuro;
Dos nossos velhos antigos
Sendo, os melhores amigos,
As luzes do nosso escuro.
Das nossas crianças rindo,
Correndo alegre, brincando,
Num canto, em todos os cantos,
Sem o maldito rondando!
Tendo no pai um amigo
Podendo contar consigo,
Quando estiver precisando.
É um sonho impossível?
Fácil é falar bem da morte,
Propagando mais o ódio,
Chorando a falta de sorte:
Da terra seca sem flores,
Rachada cheia de dores,
Do leste-oeste, sul-norte!
Planeta cor azulada,
Terra d’água e da vida,
Coração de mãe eterna,
Vivendo a vida sofrida,
Lutando contra a ganância,
Estupidez e arrogância
Para não ser destruída.
Só há nuvens, nuvens negras,
Lá no céu, de tão escuro!
A fumaça sendo a arte,
Nessa tela do futuro,
Não se mostra a esperança.
Quem só vive e não descansa
O destino é obscuro.
E as leis que não tem regras,
Dessa gente sem noção,
Que finge sério e que mente,
Sem senso, sem coração,
Demente e dissimulada
Com a cara deslavada,
Diz que tem boa intenção.
O canto dos passarinhos,
Celebrando a liberdade,
São gravados só em discos,
Para a posteridade.
As pessoas mais amigas,
Me lembram as inimigas,
Finge a afetividade.
As vitórias não têm glórias,
Das guerras que já são tantas.
Quem luta come excremento
Sentado entre as antas,
Recontando os seus troféus,
Vitórias das guerras santas?
Cada menino sorrindo,
Seu sorriso amarelo,
Fraco, faminto, carente,
Vagando só e sem elo,
Lá nos buracos sem luz,
No pé, no mastro da cruz,
Sequioso e magrelo.
Cheirando, cheira legal,
Na cola, cola colados,
Numa viagem sem volta,
Ali, em todos os lados,
Perto, tão perto de mim
Sorvendo pedras sem fim,
Com seus corpos flagelados.
Crianças nascem miudinhas
E vão crescendo peladas,
Criadas a fogo e ferro
Sentindo-se desprezadas
Em nosso mundo mundano,
De gente com mão de cano,
De gentes muito taradas.
Elas já não mais reclamam,
Recebem muitas pancadas,
E muito pouco, esperam,
Dessas almas desalmadas
Que embebem da sua fama,
Arrotam sobre a cama,
Engulhos das presepadas.
Essa gente sem noção,
Explorando os mais fracos,
Desprezam sempre os mais velhos,
Depois se livram dos cacos!
Já não amam mais poesias
E andam em romarias,
Com as mãos sob os sovacos.
O planeta está morrendo,
Obsceno e poluído,
Exalando cheiro forte,
Cheiro de porco cozido
Que se sente no chiqueiro
De quem rouba o dinheiro
Desse povo mais sofrido.
Sentindo o cheiro da morte
Os abutres vêm rondando,
Para limpar a sujeira.
Nosso ar tá rareando,
A tendência é piorar.
Tá difícil de falar
Não estou mais respirando?
Dia a dia nessa luta,
Na magia de sonhar,
Na esperança de sorrir
Minha alma a me inspirar,
Na soneca ao relento,
Vivo o sonho do talento
Na inércia do acordar,
Sem a falsa da modéstia,
É a poesia que eu queria
Lá do âmago da alma.
Mas, que estilo de poesia,
Vou criar com esse alento,
Se não resta um argumento?
Mergulho na utopia?
Lá na sombra lá do morro,
Só tem dor, grito e orgia,
E o socorro, quando vem!
Vem da droga, drogaria.
Mas e a festa lá do Cristo
Sem a fé que eu tanto insisto?
Vinde a mim! Santa folia!
A minha linda poesia,
Sem o vosso reino santo,
Escrevê-la já, não posso,
Mesmo clamando em pranto.
É porque, de um bom pateta,
Tenho mais que um bom poeta,
Que sonha cantando um canto.
Vai que eu sonhe com a musa,
Numa noite ou qualquer dia,
E talvez ela me inspire,
A excelente poesia,
De uma chama luz fraterna,
Tão bonita e tão eterna,
Como tanto eu mais queria?
Josué G. de Araujo

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015



O Cordel escolhe o cordelista
e o cordelista escolhe o caminho.

Com o apoio cultural da editora Luzeiro, a Magazine Gibi lança o primeiro volume de uma série
“A saga dos vampiros” escritas por Josué Gonçalves de Araújo em parceria com Nirothon Pereira (Nirothon José Cardoso Pereira) residente no Pará. Não se conhecem pessoalmente. Niro o encontrou através das redes sociais da internet. Com esse livro, Nirothon entra para o mundo dos cordelistas através dessa fecunda parceria. A primeira ideia foi criar uma saga com os entes encantados da natureza mas depois de escrita, ainda restava muito fôlego para a dupla. Daí surgiu a ideia da saga dos vampiros. Os vigilantes saíram de férias e chegaram os vampiros no cenário da vila do Araí.

SOBRE A SAGA: Os vigilantes da natureza

Lembro-me lá da região do Pontal do Paranapanema, quando, ainda garoto, saí de uma mata totalmente desorientado, após ter atirado num pássaro que era impróprio para a alimentação. Queria provar ao meu primo que era bom atirador. Só cheguei em casa porque o meu primo segurou a minha mão e me carregou. Segundo os mais velhos, eu havia sido castigado pelo Saci, Curupira, Caipora ou coisa semelhante, seres encantados que protegem a natureza.

Não é interessante que esses causos de seres encantados que se ouvem falar por boca de muitas pessoas, sempre tem algo em comum? Defesa da natureza! Todos esses entes, de certa forma, têm a função de proteger a natureza dos predadores. São muitos os relatos de caçadores que não respeitam a natureza e que sofrem alguma punição ou aos seus próprios cães de caça que, desorientados, apanham de uma chibata invisível.

Tinha em mente o intuito de escrever sobre a magia dos Elementais, interagindo com o nosso povo. Uma série em Cordel sobre esses entes encantados, heróis, guardiões da natureza. Pensei em viajar para um lugar onde houvesse evidência desses acontecimentos. Ouvir as pessoas da região e obter relatos, inclusive de possíveis vítimas. De repente o Nirothon, lá do Pará, se apresentou a mim, através da internet.

Um leitor de Cordel, que desde a infância, reuniu em sua coleção, mais de 300 livretos de Cordel, e que viveu e vive ainda, no Pará, integrado a natureza, onde os fatos acontecem.  Niro demonstrou possuir uma imaginação fértil para a criação de histórias de seres encantados.
Niro demonstrou flexibilidade e ânimo. Tinha em sua memória um arsenal de casos fantásticos e sonhava em ser um cordelista. Entender as regras da métrica e rima do Cordel. Juntamos tudo isso num pacote. A ideia de uma parceria começando com o projeto da saga: “Os vigilantes da natureza em Cordel”. Depois de definido o projeto, as criações aconteciam tomando forma. A princípio definimos todo o projeto em uma trilogia, mas as ideias continuavam e por fim, ampliamos para sete volumes, com a sensação de que poderíamos criar mais outros volumes sobre o assunto e foram escritos mais de dez volumes. Informações transitavam daqui pra lá, de lá pra cá, gerando uma sincronia cada vez mais perfeita, entre nós. A noite, ouvia do celular do Niro, a sinfonia dos sapos e pererecas do lago à beira do seu trabalho. A minha mente voava e ao revisar um simples rascunho - histórias e histórias nasciam dentro da história principal. Niro tinha a preocupação de observar e aperfeiçoar o uso das regras do Cordel, para desenvolver melhor o seu talento de criatividade. A medida em que estreitávamos a relação de parceria, eu ampliava a admiração pela sua genialidade. O cordelista dentro dele, aos poucos se aflorava, procurando o ponto de equilíbrio com o gênio criativo. O processo de criação de histórias com Niro era estimulante. Eu me sentia o mestre e o discípulo, simultaneamente. Também fui fisgado pelo Cordel na infância.
Minha Avó, analfabeta mas de boa audição, de tanto ouvir e decorar os tais romances de cordel, foi (como uma professora) quem me despertou e me apontou o caminho dos livros, da literatura, da poesia, do escritor cordelista que me tornei, enfim... “O caminho seguro do conhecimento”.
Aos 6 anos de idade descobri a literatura, ao ouvir da boca da minha Avó, em versos de cordel, a “História do Valente João Acaba Mundo e a Serpente Negra”, do saudoso cordelista Minelvino Francisco Silva - (1926-1998).

Se os olhos da vovó se negavam a ler e as mãos cegas a escrever, restava-lhe os ouvidos para ouvir e aprender.

Hoje, algumas daquelas pessoas ouvintes, são escritores – como eu -, outras são professores e até ilustres da literatura brasileira, com fama internacional.
Atualmente, em nosso Brasil com menor índice de analfabetismo, o Cordel continua presente em muitos livros paradidáticos, adotados para serem trabalhados em escolas públicas ou eventos culturais.      

A SAGA:
“Os entes encantados da natureza”
(Inspirado nos “causos” folcloricos da Amazônia)

Ainda sem título definido. É uma série em volumes no forma­to padrão do Cordel.
“Da mesma forma que o cordel, nas décadas passadas, escrito sob o princípio da oralidade, fluiu coletivamente, alegrando e encantando, educando, despertando talentos e provocando sonhos, assim é, os contos e fábulas infantis para o mundo das crianças e ou adultos. Transformar esses contos, lendas e fábulas em versos de cordel é potencializar os benefícios e objetivos dessa forma de expressão literária, no intuito de incentivar as pessoas, além de conhecer e gostar de literatura através das regras e do gracejo do Cordel, chamar atenção para a necessidade da preservação ambiental. Os entes en­cantados vistos como vigilantes e defensores da natureza.”

PLANO DA OBRA - A saga:
Volume I – A Gênese Elemental
Volume II – A Sina da Mãe D’Água.
Volume III – A Matinta Pereira, Saci Pererê e Curupira...
Volume IV – O Reino do Olho D’Água’.
Volume V – Sarambuí.
Volume VI - Refúgio dos Guardiões.
Volume VII – Batalha dos Guardiões.
...são mais de 10 volumes já escritos.



Sinopses:
Do Livro II - A SINA DA MÃE D’ÁGUA - CORDEL
...
“Aconteceu no Pará,                     
Na antiga Urumajó,
Mas hoje, Augusto Correa,
Onde o sol queima sem dó,
Moça lá, vira Mãe D’água,
Se estiver dormindo só.”
...
“Mãe-d’água”, é uma entidade do folclore brasileiro. Além de uma bela história em versos de cordel, a figura folclórica da Mãe d’água, é empregada como uma entidade de proteção ao meio ambiente e ganha uma nova versão para as suas origens.
...
Duas lágrimas rolaram
Pelas faces de Glorinha,
Quando falou a Mãe D’Água:
— Sendo eu pequenininha
Diante da sua grandeza,
Posso dar-lhe uma mãozinha?

— Minha querida menina,
Há somente dois caminhos:
Unir-se aos mais conscientes
Que lutam sempre sozinhos,
Enfrentando o próprio homem
Com todos os seus espinhos...

Ou se tornando maior
Para melhor proteger.
Sendo você a Mãe D’Água,
Ganha um enorme poder,
A magia necessária
Para os rios, defender.
...
Do Livro IIIA Matinta Pereira, Saci Perere e o Curupira
...
“O povo não pode vê-lo
Pois o reino é encantado,
Mas todos ouvem histórias
Desse reino respeitado,
E o mistério só aumenta
Na história do povoado.”
...
A história da primeira Matinta Pereira, a mulher que se transforma em pássaro e solta um forte assobio que assombra os maus caçadores, inclusive as suas origens em um reino encantado dentro de uma fonte, banhada pelo mar, todas as manhãs. Nesse cenário, também surge as figuras do Saci Pererê e o Curupira, ambos de reinos distintos, envolvidos na deflagração de uma guerra entre os reinos. Revela-se nessa história o porquê do Saci ter somente uma perna e o Curupira os pés virados para trás, com a missão de proteger a fauna.
...
“Matinta ficou acesa
Com a ideia de ser gente,
Mas de repente tremeu,
Sentiu medo de repente.
Num mundo, assim sem magia,
A vida é bem deprimente.”
...

...
“Mais aqui vamos contar
Uma história de amor,
Da princesa encantada
E o humano sonhador.
Amor de mundos distintos,
Digno de todo louvor.”
...
Uma trama fascinante onde o amor cruza as fronteiras do mundo encantado e se torna presente no mundo real. Flechar, mortalmente, um sapo cururu encantado sobre uma pedra, provocou uma história de vingança entre um reino encantado e a família do menino caçador, no mundo dos humanos. Intriga, magia e amor interagindo entre os dois mundos.
...
“Do mesmo jeito que o sapo,
Lá no seu reino gemia,
O menino em sua casa
Da mesma forma sentia.
Cada dor era sentida
Em perfeita sincronia.”
...

SOBRE A SAGA: Os Vampiros
A história das duas sagas acontece na cidade natal de Niro –cidade de Augusto Correia –PA na vila do Araí. Nessa vila tinha um olho d’água que em parte do dia era banhada pelo mar e na outra metade do dia, voltava a ser uma fonte de água doce. A maré trazia os mistérios das águas do mar para a mina de água doce. Muita superstição se originou nas águas dessa fonte. Niro registrou tudo em sua mente e nessa parceria procuramos dar vida a esses personagens e criamos muitos outros para formar a saga dos vigilantes, mas no caso da saga dos vampiros, usamos apenas o mesmo cenário, mas as ideias e os personagens são, totalmente, criados pela parceria. Magia, encantamento, vampiragem, aventura, amor, filosofia...tudo acontece nessa saga, mas cada volume tem início meio e fim como qualquer saga. Cada volume tem 32 paginas

A SAGA DOS VAMPIROS
Volumes:
VAMPIRO - VOL. 1 – Depressão Sombria
VAMPIRO - VOL. 2 - Os grimórios da feiticeira
VAMPIRO - VOL. 3 - A maldição do sangue
VAMPIRO - VOL. 4 - A bruxa do leste

VAMPIRO – Depressão Sombria (Lançado)

Lá na Vila do Araí,
A terra da fantasia,
Tem mistério até demais.
Já pensam em romaria
Só por causa de uns boatos,
De vampiro e de magia.

Excluindo esses mistérios,
É tranquilo o povoado!
O trabalho é só de pesca,
Ou então é de roçado.
A vida lá é serena,
O povo é bem sossegado.

Energia elétrica, lá,
Era até as dez, somente,
Depois disso a lamparina
Clareava o ambiente.
Os velhos contavam contos
Nas noites de tempo quente.

No terreiro em frente a casa,
Sob a lua prateada,
Contavam causos e causos
De princesa encantada.
De herói e cangaceiro,
Assustando a meninada.

Os romances de cordel:
Peleja de Riachão,
O pavão Misterioso,
Juvenal e o Dragão,
As Proezas de João Grilo,
José de Souza Leão.

De forma que todo o povo
Convivia acomodado,
Até que em certa noite
Tudo foi modificado.
Um fato misterioso
Deixou o povo assombrado.
...

...
Damiem se despertou
Numa estranha região.
A visão estava turva,
Seu corpo frio no chão,
Do que havia se passado
Não tinha recordação.

No céu a lua brilhante,
Na terra a relva orvalhada,
Damiem pôs-se de pé
Com uma sede danada.
Sentiu a força do corpo
De forma demasiada.

Olhando ao redor não viu,
Ao menos, um viajante.
O seu ouvido captou
O som de um lugar distante.
Dentes mastigando folhas,
Um animal ruminante.

Damiem saiu correndo
No rumo do animal.
Corria mais que o vento
Isso não era normal.
Agarrou aquele cervo
Com força descomunal.

Cravou as presas no bicho
E todo o sangue bebeu.
Sentiu-se fortalecido,
Porém nada entendeu,
Pois bebeu somente o sangue
Mas o resto não comeu?
...
Não percam ... as emoções do próximo episódio.
... As revelações surpreendentes de Socorro.

Esse foi o caminho do Nirothon. Outros livros da parceria serão lançados e outros de carreira solo também serão lançados por ele. Niro tem imaginação dos antigos cordelistas e tem humildade para aprender (virtude dos sábios) as regras seculares do cordel. O Cordel não existe sem as suas regras. Seja bem-vindo Poeta Nirothon.
Josué G. de Araújo



Nirothon José Cardoso Pereira
Casado, pai de três filhos. Filho: de José Pinheiro Pereira (pescador) e Maria de Fátima Cardoso Pereira (professora). Nasceu na vila Araí, Augusto Corrêa, Pará em 02/11/1976.
Estudou na escola Emiliano Picanço da Costa na própria vila Araí.
Seu Pai era um leitor assíduo dos folhetos de Cordel e foi dessa forma que Nirothon, desde a infância, descobriu o mundo do Cordel, através dos livretos da coleção do pai, mesmo antes de aprender a ler. Provavelmente aos 7 anos já começou a ler o Príncipe Formoso, Histórias de encantamento, princesas, aventura por amor. Quando saiam para pescar, as vezes, por até uma semana, a única diversão dos pescadores eram os romances de cordel. Após, os 15 anos de idade, iniciou a sua própria coleção de cordel, que hoje já conta com mais de 300 títulos, na maioria, livros da editora Luzeiro.
De tanto ler Cordel, despertou em si, o dom de inventar histórias de encantamento. Ao conhecer o cordelista Josué de São Paulo, tiveram a ideia de se unirem para desenvolver histórias, se apropriando de lendas com belos enredos, que pudessem visar a proteção do meio ambiente. A história da Mãe d’água foi a primeira da série, a ser escrita. Com o primeiro volume da saga “Vampiros em cordel”, se lança como escritor em parceria com Josué, escritor cordelista da editora Luzeiro em São Paulo. 


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