terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Obra comtemplada com prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 Edição Patativa do Assaré do Ministério da Cultura

Os três fios de cabelo de ouro do diabo
Josué G. Araujo - Editora Luzeiro

Em um tempo muito antigo, o nascimento de uma criança empelicada causa estremecimentos no pequeno vilarejo onde vivem seus pais. Uns dizem que é maldição, outros que é mau augúrio. Uma sábia feiticeira lhe profetiza bonança e realeza. O Imperador, receoso de perder seu trono, adota um plano de crueldade e morte. Mas o destino está traçado...


Todo e qualquer egoísmo
É irmão da ambição,
Que é irmã da inveja,
Madrasta da presunção,
Com isso o homem se acha
O Senhor da Criação.

Alegre, por não ser Deus,
O nosso Pai Soberano,
Peço aos céus, inspiração
Para tratar de um profano
E de um dos grandes pecados
Que persegue o ser humano.

Sob o teto de um casebre,
Nasceu um menino forte.
Por conta de seu aspecto
Julgaram trazer má sorte,
Mau agouro, bruxaria
Ou o cutelo da morte.

Acontece que a criança
Veio ao mundo empelicada.
O pai vestiu-se de susto,
A mãe ficou alarmada.
Julgaram que aquele filho
Teria vida azarada.

...

— Um bebê empelicado —
Refletiu a cartomante —
É sinal de boa sorte.
Apesar de alarmante,
Digo que esse sortudo
Será grande governante!

De criança a adolescente,
O jovem traz porte belo,
Mas a cisma do destino
Já lhe prepara um cutelo:
As águas do rio da morte
Abalarão seu castelo.

Mas isso já é o fim...
Vamos voltar ao começo
Porque história se conta
Do início, sem tropeço.
Por isso peço que leiam
Todo o caso com apreço.

...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ANIVERSÁRIODA CARAVANA DO CORDEL


ANIVERSÁRIODA CARAVANA DO CORDEL

10 DE DEZEMBRO – SÁBADO, DAS 15h30 ÀS 19h.

LOCAL:BIBLIOTECA LATINO-AMERICANA

MEMORIALDA AMÉRICA LATINA

PORTÃO5 – ACESSO PELA PASSARELA – METRÔ BARRA FUNDA

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Luzeiro lança novo folheto de Cordel de Josué Gonçalves de Araujo

Apagando as Pegadas

As convenções sociais separam Jose Mário e Lucineide. Meio século depois o forasteiro retorna a sua terra atrás do que perdera na longínqua distância. Na busca do seu passado encontra um presente que jamais imaginou. O tempo é senhor da história que reserva surpresas incríveis. O que terá acontecido com eles?



Numa tarde nebulosa
De melancólico inverno,
Um ônibus enlameado,
Como se viesse do inferno,
Atravessa um nevoeiro,
Trazendo um homem de terno.

Enfim, Areia dourada!
Defronte a rodoviária,
A viagem então se finda.
A figura solitária,
Faz uma cara de dor,
Por culpa da coronária.

O passageiro que apeia
É um homem já idoso,
Com o terno amarrotado.
Negro de porte garboso,
Andava sob a neblina,
Com o passo cauteloso.

...

Desse cenário remoto,
Volta os olhos ao presente,
Mas em outra dimensão,
Ao tempo indiferente.
Forasteiro é sempre aquele
Que passa a vida ausente.

...

Contato:Autor: josuecordel@hotmail.com

Cel.: (11) 7421-8940

Editora Luzeiro Ltda

Fone: (11) 5585-1800

e-mail: vendas@editoraluzeiro.com.br


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

I FORUM DE CORDEL EM SÃO PAULO

O PRIMEIRO FORUM DE CORDEL SE REALIZA EM SÃO PAULO

No último dia 27 de agosto de 2011, era um sábado ensolaradoem São Paulo,quando poetas,pesquisadores, professores e estudantes amantes da arte seencontraram para discutir o Movimento de Cordel em São Paulo e no restante do país.
O Fórum foi aberto com a intervenção musical de AldyCarvalho com sua excelente musica e interpretação.
Muitas discussõesforam feitas: a relação da tradição com a contemporaneidade com a presença namesa de Francisca Batista mestranda em sociologia e pesquisadora e o Poeta Moreirade Acopiara outro debate bastante acalorado foi sobre a história e relação docordel com a universidade. Nesse debate contamos com a presença de AderaldoLuciano doutor em Literatura e a doutora em sociologia Jerusa Pires Ferreira.

Tivemos uma boa participação dos presentes nos debates quese escreveram para opinarem sobre as questões em discussão.

Além do debate teórico sobre o cordel, tivemos apresentaçõesde poetas e músicos no evento que abrilhantaram mais ainda a realização desseevento.

Parabéns ao Movimento Caravana do Cordel que vem nesses últimosanos construindo espaço para que o amante do cordel possa reconstruir uma compreensãodesse gênero da Literatura Brasileira que ainda busca o seu verdadeiroreconhecimento.

E agradecemos especialmente as pessoas que estiverampresentes pela primeira vez e que possam retornar e ser parte viva do MovimentoCaravana do Cordel.

Trecho de Nando Poeta do Blog: http://tributoaocordel.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Literatura de Cordel, Literatura Brasileira



APROPUC-SP 10.03.09
Aderaldo Luciano



1. Uma literatura da terra

A Literatura de Cordel, vista muitas vezes, ou quase sempre, como arte de segunda categoria, pela sua origem sócio-racial, é fenômeno ímpar. Afirma Joseph M. Luyten:

Ao contrário de outros países, como México e Argentina, onde esse tipo de produção literária é normalmente aceita e incluída nos estudos oficiais de literatura - por isso poemas como "La cucaracha" são cantados no mundo inteiro e o herói de cordel argentino, Martin Fierro, se tornou símbolo da nacionalidade platina - as vertentes brasileiras passaram por um longo período de desconhecimento e desprezo, devido a problemas históricos locais, como a introdução tardia da Imprensa no Brasil (o último país das Américas a dispor de uma imprensa), e a excessiva imitação de modelos estrangeiros pela intelectualidade (Luyten apud Vicente, 2000, prefácio).

Acrescentamos à observação do Dr. Luyten o aspecto preconceituoso com que as elites acadêmicas brasileiras olharam para a produção poética popular. De fato, nossos compêndios e manuais de história da literatura brasileira, incluindo-se livros didáticos destinados ao ensino fundamental e médio, desviam-se da Literatura de Cordel como o diabo da cruz, utilizando o termo "popular". Qualquer citação virá eivada de caráter exótico, nunca com apuro crítico. Como experiência, procuremos o verbete Literatura de Cordel na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza. Encontraremos menção a dois ou três títulos de ensaios sobre o tema, mas nada sobre ela mesma. O verbete veio na letra C, "Cordel, literatura de". Esse verbete repete o Dicionário do Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, ao mesmo tempo em que a associa à memória dos cantadores e vates populares, seus transmissores orais. Para depois passar à classificação dos temas versados, citando Franklin Maxado:

... folhetos de época, de ocasião, históricos, didáticos ou educativos, biográficos, de propaganda política ou comercial, de louvor ou homenagem, de safadeza... (Cascudo, 2002: 527)

E são arrolados uma infinidade de temas. Chama-nos a atenção o fato primeiro de o verbete não vir na letra L de literatura, mostrando-se excludente. Por que apresentá-la como Cordel? Será porque não é aceita como literatura?
Quando situa a literatura de cordel como versão escrita da oralidade poética dos cantadores, é, no mínimo, omissa, a Enciclopédia, chegando ao risível. Ora, toda a literatura universal não é herança da oralidade? A escrita não é fruto secundário da linguagem? Por que, então, observar isso como característica da literatura de cordel?
E no que diz respeito ao tema: toda a literatura não trata dos mesmos temas? Para quê uma listagem de temas, se a produção literária é fruto da observação social e da vivência particular de cada autor? Para mostrar, exoticamente, que, apesar de o autor popular ser um homem simples, preocupou-se com temas os mais diversos, como se estivesse descobrindo o mundo e seus semelhantes, emergindo das trevas profundas da ignorância?
Todas as literaturas nacionais têm a sua formação no conjunto de lendas e histórias contadas pelo seu povo, repassadas oralmente. A literatura grega funda-se sobre as narrativas homéricas. A teoria e a crítica literária tiveram sua gênese com as normatizações apresentadas por Aristóteles sobre esse corpus. Tomando, ainda, a literatura grega como arrimo, seus temas não passaram pelos mesmos da literatura de cordel? Não houve uma poesia didática com Hesíodo? E romances de amor e aventura com Xenofonte de Éfeso e Aquiles Tácio?
Poderíamos nos alongar sobre exemplos da literatura alemã com A canção dos Niebelungos; da francesa, com A canção de Rolando; da espanhola, com O cantar do meu Cid, ou ainda mencionar as baladas dinamarquesas do século XVII para sustentar o raciocínio sobre a formação das literaturas com gênese na oralidade como processo natural.
Tratávamos, em parágrafo anterior, da presença da literatura de cordel nos estudos sobre literatura brasileira. Aliás, tratávamos da ausência. Nenhum dos nossos reconhecidos estudiosos reserva-lhe lugar em suas obras principais. Sabendo-se que Leandro Gomes de Barros foi o primeiro a publicar seus folhetos e editá-los sistematicamente, não lhe é devida nenhuma citação em Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos, de Antonio Candido, nem em A Literatura Brasileira, de José Aderaldo Castelo, tampouco na História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi. Dá-se o mesmo em Ronald Carvalho, Nelson Werneck Sodré e José Veríssimo. Sílvio Romero, embora não o cite, nem poderia, visto não terem sido contemporâneos, em sua História da Literatura Brasileira trata das tradições populares, referindo-se ao seu volume dedicado a estudos sobre poesia popular no Brasil.
Quanto aos livros didáticos, o que se apresenta é uma periodização das Épocas Literárias desde Portugal. Mesmo atribuindo valor ao trovadorismo português, ao cancioneiro de Garcia de Resende, às cantigas de Martim Codax e D. Dinis, ou Joan Airas de Santiago, escritos primevos, nada sobre Literatura de Cordel. É como se esse fenômeno não tivesse acontecido. Deve-se ao trabalho de pesquisadores particulares, paladinos e quixotes, a tentativa de integração e enquadramento dessa literatura no todo literário brasileiro, exemplo seguido por algumas instituições, como a Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, Pernambuco, citando as mais conhecidas.
Que essas observações sejam feitas não como meta de nosso pequeno roteiro de estudos. Sejam, sim, uma marca a ser observada em nosso rumo. A constatação de como um produto tão rico e importante na construção de uma nação, a nação identitária dos nordestinos e a brasileira por extensão, por motivos os mais diversos, é esquecido do que Ariano Suassuna, citando Machado de Assis, diz ser o Brasil Oficial.
Arnaldo Xavier, no artigo O Maior Poeta que Deus Crioulo (Xavier, in www.muse.jhu.edu/demo/cal/18.4xavier_p.html), diz que a Literatura de Cordel "... é uma forma única de comunicação que mistura poesia, humor e epopéia." Essa compreensão acrescenta uma qualidade que pode inserir definitivamente essa forma de produção literária naquele todo brasileiro já citado. A característica épica.
As aproximações de Ariano Suassuna, vide o Auto da Compadecida, cujos heróis João Grilo e Chicó são crias confessas da Literatura de Cordel, e de João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina, com seu Severino retirante, dão bem a dimensão do poder transformador do cordel.
Esse poder torna-se ainda mais observável quando propomos fazer uma aproximação com a épica clássica. Para vários autores, a literatura brasileira inicia com a Prosopopéia, de Bento Teixeira (1601), marco, também, do Barroco brasileiro. O poema épico traduz-se como uma imitação capenga de Camões, além de ser uma peça encomiástica que de literatura pouca coisa possui. No dizer de Anazildo Vasconcelos da Silva: "A importância da Prosopopéia está em ser a primeira obra, na ordem natural, a fazer a sintonia histórico-cultural do Brasil com o mundo" (Silva, 1987: 26).
Essa obra, detendo valor histórico-cultural, sobrepõe-se a toda produção do cordel, levada a cabo numa terra sobre a qual apenas os infinitamente mais fortes se fixam. Entre o valor literário da Prosopopéia e o valor literário da produção do cordel, quem estaria mais próximo do épico? O imitador de Camões ou o autêntico cancioneiro nordestino? Apresentar respostas com mais perguntas é, agora, o mais sensato. Que foi feito de Sousândrade? O Guesa foi esquecido, deixado à sombra, para só há pouco ser definitivamente incorporado ao Cânone da literatura brasileira. Mas, o que é o Cânone literário brasileiro? Certa vez, Olavo Bilac riu sobre os versos de Augusto dos Anjos, aquele caso singular da literatura brasileira. Comentando o título de Príncipe dos Poetas obtido, em votação, por Bilac, diz Carlos Drummond de Andrade:

Em 1913, certamente mal informados, 39 escritores, num total de 173, elegeram por maioria relativa Olavo Bilac príncipe dos poetas brasileiros. Atribuo a má informação porque o título, a ser concebido, só poderia caber a Leandro Gomes de Barros, nome desconhecido no Rio de Janeiro, local da eleição promovida pela revista FON-FON, mas vastamente popular no Nordeste do país, onde suas obras alcançaram divulgação jamais sonhada pelo autor de "Ouvir Estrelas" (Drummond de Andrade apud Barros, 2002: 18).

Dito isso, discorre sobre diferenças entre os dois poetas:

Um é poeta erudito, produto da cultura urbana e burguesia média; o outro, planta sertaneja vicejando à margem do cangaço, da seca e da pobreza.

Arrematando:

Aquele tinha livros admirados nas rodas sociais, e os salões o recebiam com flores. Este, espalhava seus versos em folhetos de cordel, de papel ordinário, com xilogravuras toscas, vendidos nas feiras a um público de alpercatas ou de pé no chão.

Fecha dizendo sobre Leandro:
... Não foi príncipe de poetas do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro.

Volta a pergunta para reflexão: o que é o nosso cânone literário e quem o elege?
Adiantemo-nos. O nosso primeiro poeta genuíno foi Gregório de Mattos, que popularizou a poesia na Bahia. Por longos anos, suas peças satíricas foram relegadas ao limbo, ao umbral, detrectadas, enquanto sua produção religiosa e lírica era estudada em longos serões e conferências. Mas, essa produção esbarra nos apócrifos e apógrafos reproduzidos em folhas soltas pelas esquinas da cidade de Salvador, o que lhes confere um caráter duvidoso. E isso não ofusca a pena do Boca do Inferno. O Boca de Brasa é poeta e, assim como Abraão, aquele patriarca hebreu, pai de dois filhos: Isaac, representando os escolhidos, o cânone, com uma seqüência que vai dos árcades aos concretistas e à vanguarda pós-moderna atual, e Ismael, representando os banidos, abrangendo todo um arsenal de poetas populares, desde Leandro Gomes de Barros até Azulão, despachando versos na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

2. Cordel e épica

Ao tomar a Prosopopéia, de Bento Teixeira, para o trabalho de comparação sobre épica, quisemos lançar olhares para essa característica da literatura de cordel. Durante seus primeiros tempos, a literatura brasileira, como toda e qualquer literatura colonial, foi a sombra da metrópole, da Europa. A literatura de cordel, também em formação, aproveitou-se de temas europeus. Daí porque as histórias de cavalaria e bravura irrigaram nossos folhetos. Citar uma ou outra, fazer levantamentos e catalogações seria redundante em nosso contexto, visto que outros já o fizeram com maior acuidade. E mesmo, é o óbvio. O certo é que, assim como o todo literário brasileiro, buscava-se uma identidade. Havia a forma, o conteúdo era ainda difuso. O encontro da literatura de cordel com o cangaço nordestino foi como o estabelecimento do caminho a ser seguido. O assunto, gerado a partir de problemas sócio-econômicos -e culturais, transformou-se no ponto decisivo da criação de uma identidade literária. O ciclo épico dos cangaceiros na literatura de cordel é o marco divisório. O Nordeste começou a falar de si e a buscar seus heróis, encontrando nos cangaceiros seus representantes na luta contra a injustiça social. Observa Mark Curran:

No cordel, o cangaceiro é o herói por excelência, misto de bandido, criminoso e lutador pela justiça no sertão nordestino. Nas obras cordelianas contemporâneas, é visto como o tipo heróico legítimo, maior do que a vida, verdadeiro "cavaleiro do sertão", com as cintas repletas de balas, o rifle "papo-amarelo", o revólver e o facão. É conhecido pelos epítetos: Rei do Cangaço, Rei do Sertão, Terror do Nordeste, Rifle de Ouro, Leão do Norte, Mestre da Morte e, no caso do célebre Lampião, Galo Cego (Curran 2001: 61).

Reiteramos que esse encontro ofereceu à literatura de cordel o seu herói. Franklin Távora, em 1876, apresentava, sob o nome de Literatura do Norte, um volume, um romance histórico, cujo herói era um desses: o Cabeleira. Um precursor, talvez. Távora afirma que

... o protagonista da presente narrativa, o qual se celebrizou na carreira do crime, menos por maldade natural, do que pela crassa ignorância... Autorizavam-nos a formar este juízo do Cabeleira a tradição oral, os versos dos trovadores e algumas linhas da história que trouxeram seu nome aos nossos dias envolto em uma grande lição (Távora, 1973: 31).

O apelo popular e seus versos, ao que parece, já tentavam construir uma identidade, pautada na ausência de justiça. Como nos revela o Major Optato Gueiros, da Polícia de Pernambuco, oficial responsável por combater e perseguir cangaceiros: "Dentre as causas propulsoras da evolução do banditismo, não resta a menor dúvida, que figura em primeiro plano a injustiça" (Luna, 1972: 23).
E como salienta Luis da Câmara Cascudo:

O sertanejo não admira o criminoso, mas o homem valente (...) Para que a valentia justifique ainda melhor a aura popular na poética é preciso a existência do fator moral. Todos os cangaceiros são dados inicialmente como vítimas da injustiça. Seus pais foram mortos e a justiça não puniu os responsáveis. A não-existência desse elemento arreda da popularidade o nome do valente. Seria um criminoso sem simpatia.
O sertão indistingue o cangaceiro do homem valente (Cascudo, 1984: 160-61).

Ou mesmo a revolta de Zé da Luz:

Na Capitá Federá,
Tenho visto brasilêro
Dizê que o sertão só dá
Assarcino e cangacêro!

Cangacêro e assarcino!...
- O qui faltou no sertão
Foi livro prá Antonho Silvino,
Justiça prá Lampião! (Luz, s/d: 1949)

Claro que o nosso trabalho não quer justificar o cangaço, tampouco estudá-lo em minúcia, mas tão-somente situá-lo, numa preparação ao encontro com aquele que marcará definitivamente a história da Literatura de Cordel e do Nordeste, tornando-se um ícone indelével.
Desde aquele Cabeleira, outros foram se destacando neste tipo de empreitada: a formação do cangaço. Luis Luna apresenta-nos um rosário de cangaceiros:

Zé Pereira, Antonio Silvino, Casemiro Honório, os irmãos Porcino, Antonio Quelé, os chefes mais importantes do cangaço... Essa chuva caiu quando Virgulino Ferreira da Silva mal entrava na adolescência, aos 17 anos de idade (Luna, 1972: 24-25).

Leandro Gomes de Barros dedicou boa parte de seus folhetos ao cangaceiro Antonio Silvino. Certamente, se tivesse sido contemporâneo de Lampião, a produção cordeliana sobre o Rei do Cangaço teria triplicado sua importância.
Abramos um pequeno espaço para uma indicação, pela qual acreditamos poder desfazer um equívoco. Muitos estudiosos confundem a poesia dos cantadores repentistas nordestinos com a Literatura de Cordel. É certo que sejam irmãs. E como todos os irmãos, sejam, também, diferentes. Os poetas cordelistas raramente são repentistas ou glosadores. São poetas da letra, conhecidos como poetas de bancada, sofrendo inclusive algum preconceito por parte daqueles. O repente é obra de momento, é construção oral cuja maior característica é ser efêmero, fruto do improviso. Por isso são famosos os desafios e pelejas, nos quais dois cantadores se debatem em criações e trava-línguas, em perguntas e respostas. O Cego Aderaldo gabava-se de nunca ter repetido um verso. Nenhum cantador que se preze escreverá seus versos para depois os decorar, cantando-os memorizados. Cantar com versos decorados é uma desfeita, uma aberração causadora de constrangimentos e agressões. O verso cordeliano, ao contrário, é fruto do trabalho, da elaboração. É o mesmo trabalho beneditino da Profissão de Fé de Olavo Bilac (Bilac, 1940: 5-10).
Os equívocos e maus olhares com que a Literatura de Cordel foi observada por muito tempo precisam urgentemente de revisão. Se, para Antonio Candido, a existência de uma "literatura propriamente dita" requer alguns denominadores:

... a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de contacto entre os homens, e de interpretação das diferentes esferas da realidade (Candido, 1997: 23).

A produção cordeliana cumpre os pressupostos. É literatura. E mais: pela importância superior na construção identitária de um povo, não pode mais ficar de fora dos estudos sobre formação da literatura brasileira, nem ser um mero artigo, parente do artesanato. Repetimos Sílvio Romero:

Se vocês querem poesia, mas poesia de verdade, entrem no povo (...)
Poesia é no povo. Poesia para mim é água em que se refresca a alma e esses versinhos que por aí andam, muito medidos, podem ser água, mas de chafariz, para banhos mornos em bacia, com sabonete inglês e esponja. Eu, para mim, quero águas fartas - rio que corra ou mar que estronde. Bacia é para gente mimosa e eu sou caboclo, filho da natureza, criado ao sol (Romero apud Mota, 1987: 25).

3. Finalmentes

As invasões e descobrimentos foram revelando epopéias nacionais pelo mundo: o Mahabarata, na Índia; a saga de Átila e Os Nibelungos germânicos; os Edda nórdicos. O descobrimento português sepultou nossas epopéias. Não as cantamos, pois não as conhecemos. O surgimento da literatura de cordel, todavia, ofereceu-nos uma segunda chance. Os temas cantados por ela, em seus princípios, eram temas ibéricos. Versões populares para os poemas épicos franceses e espanhóis. Mas essa mesma busca de identidade, que moveu escritores cultos, levou-a a cantar (ou contar) fatos sociais recentes, transformando-se numa espécie de imprensa sertaneja. Foi o período de estabelecimento de seus alicerces formais.
Um trabalho que pense a relação entre as epopéias nacionais e a Literatura de Cordel seria o fruto dessa breve conclusão. Ao propormos um olhar mais aguçado e menos preconceituoso para o cordel nordestino, referimo-nos ao fato de que todas as tentativas de escrever uma epopéia nacional tenham sido, de certa forma, ou de forma certa, infrutíferas. Enquanto isso, com toda sua fragilidade, de base popular, sofrendo perseguições e sendo ignorada, a Literatura de Cordel resistiu, fundou sua própria poética, consagrou poetas, penetrou em todas as camadas sociais, influenciou escritores e estudiosos, transformou-se num símbolo, ícone, índice, signo e sinal de uma Nação e, ao encontrar a matéria épica dos cangaceiros, em particular o épico maior, Lampião, estabeleceu-se definitivamente como veículo portador de nossa verdadeira identidade. Literatura de cordel como tal, só acontece no Brasil. Perguntamos, em última instância: Quando exumaremos os nossos mortos para dar-lhes destinos decentes? Servir-nos-ia a voz do último cantor épico Marcus Accioly (Accioly, 2001: 101):

Ah pudesse eu cantar os teus heróis
(uns poucos que conheço em meu país)
os de rifles lixados pelos sóis
(de alpercatas-de-sola sem verniz
sobre o couro curtido) os dos aiós
da vida (há trinta anos por um triz
da morte) e cartucheiras de cangaço
em cruz no peito (as tais cangas-de-aço)

vivendo cada dia o mesmo risco
de cada noite (o tempo com um baralho
cortado ao meio em lances de perigo)
ó tarô da existência (ó jogo falho)
ah pudesse eu cantar Lusbel-Corisco
(Diabo-Louro) "uns sapatos do caralho"
(como diria Márquez) Lampião
com seu olho (à Camões) vendo o Sertão

(sim) pudesse em cordel cantar (...)
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Bibliografia
ACCIOLY, Marcus. Nordestinados. 3 ed. Rio de Janeiro: José Olympio; Recife: FUNDARPE, 1986.
__________. Latinoamérica. Rio de Janeiro: Topbooks/Biblioteca Nacional, 2001.
BARROS, Leandro Gomes. No reino da poesia sertaneja. Org. Irani Medeiros. João Pessoa: Idéia, 2002. (Boi Misterioso)
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Vol. 1. 8 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997. (Reconquista do Brasil, 2ª série, V. 177)
CARVALHO, Ronald. Pequena história da literatura brasileira. 13 ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: INL, Fundação Nacional Pró-Memória, 1984. (Biblioteca brasileira de literatura, V. 4)
CASTELO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade. Vol. 1. São Paulo: EDUSP, 1999.
CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1984. (Reconquista do Brasil, nova série, V. 81)
__________. Cantadores. 6 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. (Obras folclóricas de Leonardo Mota, V. 1)
CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 2001.
LITERATURA POPULAR EM VERSO. Estudos. Tomo I. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1973. (Coleção de textos da Língua Portuguesa moderna)
LUNA, Luiz. Lampião e seus cabras. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972.
LUYTEN, Joseph M. A notícia na literatura de cordel. São Paulo: estação Liberdade, 1992.
__________. O que é literatura popular. 2 ed. Sã o Paulo: Brasiliense, 1984. (Primeiros passos, V. 98)
LUZ, Zé da. Brasil caboclo. 6 ed. João Pessoa: Acauã, s.d.
ROMERO, Silvio. Estudos sobre a poesia popular do Brasil. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1977. (Dimensões do Brasil).
__________. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980. Vol. 2, 3 e 4.
SILVA, Anazildo Vasconcelos da. Semiotização literária do discurso. Rio de Janeiro: Elo, 1984.
VICENTE, Zé. Combate e morte de "Lampião". In: Zé Vicente: poeta popular paraense. São Paulo: Hedra, 2000. (Biblioteca de Cordel).
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Aderaldo Luciano Mestre em Ciência da Literatura e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Postado em:
http://www.apropucsp.org.br/apropuc/index.php/revista-cultura-critica/31-edicao-no06/252-literatura-de-cordel-literatura-brasileira

domingo, 8 de maio de 2011

Peleja de Arievaldo Viana e Josué de Nazaré










Arievaldo Viana:

Sou feijão com rapadura
Sou cabra de Virgulino
Sou peralta e sou malino
Canela de saracura
Sou farnisim, sou gastura,
Menestrel e trovador
Doutor Raiz, rezador
Poeta nenhum me vence
Sou matuto cearense
Cabôco véi sonhador.

Josué de Nazaré:

Sou Josué Araujo,
Cordelista de bancada,
Mas não faço embolada.
Sou baixinho enfezado,
Porém, sou cabra educado.
Sou filho de nordestino,
Sou homem, não sou menino,
Na arte de menestrel,
Não escolhi o cordel,
Isso é coisa do destino.

ARIEVALDO VIANA:

Sou do Quixeramobim
Me criei no Canindé
Digo ao Vate Josué
Que também gosta de mim
Dom de poeta é assim
Fraterno e revelador
Agradeço ao Criador
Que deu-me tino e "NON SENSE"
Sou matuto cearense
Cabôco véi sonhador.

O poeta Josué
Deu lição de português
Por isso digo a vocês
Que é um vate de fé
Solto fogos, buscapé
Para um bardo de valor
Poeta, declamador,
Sua arte nos convence!
Sou poeta cearense
Caboco véi sonhador.

Josué de Nazaré:

Fui matuto do oeste,
Lavrador e bóia-fria.
Lutava com valentia.
Um dia escrevi cordel
Numa folha de papel,
Amassei e joguei fora
Pensando em ir embora,
Trocar toda aquela lida
Por outro estilo de vida,
Nos palcos do mundo afora.

Tornei-me então um poeta
Um poeta cordelista.
Nada a ver com repentista!
Não sou improvisador
E também não sou cantor.
Eu primo pela excelência
Sob a forte influência
Dos livretos de cordel,
Essas folhas de papel
Que tem toda uma ciência.

Matuto e cearense
Cabôco véi sonhador,
Poeta declamador,
Arievaldo é emoção!
Nas escolas do sertão,
Orienta a juventude
Pra tomar uma atitude
De aprender nosso cordel,
Cada um ser menestrel
Dedilhando um alaúde!

ARIEVALDO VIANA:

Não invejo Patativa
Catulo, nem Zé Limeira
Se for pra escrever "besteira"
Minha memória é ativa
A musa nunca me priva
Me dá asas de condor´
Para mostrar o valor
do estro que nos pertence
Sou matuto cearense
Caboco véi sonhador.

Levo cordel para escola
Não para formar poetas
Mostro rimas, traço metas
Dando trato em minha bola
Quem vai por minha cachola
Vai se tornar bom leitor
Na certa admirador
Do espírito cordelense
Sou matuto cearense
Caboco véi sonhador.

Josué de Nazaré:

Cabôco véi sonhador
Matuto e cearence,
Tu é bom, mas não me vence.
Não dou mole a coronel
Nos meus dramas de cordel,
Só não prendi cangaceiro,
Mas nesse sertão inteiro
Perscrutei toda a caatinga,
Desfazendo até mandinga
Nas cenas do meu roteiro.

Vou contar-lhe meu confrade,
Que eu já fui um pescador
E também um caçador.
Já cacei onça no mato
Tirando o couro no ato;
Amansei burro selvagem
Com toda a minha coragem;
Já peguei cobra com a mão
Desconjuntei-a no chão,
Do jeito que os bravos agem.

ARIEVALDO VIANA:

Não gosto de pabulagem
Eu quero é verso bem feito
Boto a viola no peito
E não me falta coragem
No princípio da viagem
Não insulto o companheiro
Eu só viro cangaceiro
Se pisarem nos meus calos
E motor de cem cavalos
Não segue no meu roteiro.

Eu defendo o meu poleiro
Pois sou um galo de rinha
Também gosto de galinha
Persigo só pelo cheiro
Pra cantar nesse terreiro
Tem que ter muita sustança
Não é cachaça na pança
Que constrói meu improviso
Vem das células do juízo
Com pureza de criança.

Josué de Nazaré:

Com pureza de criança
Eu tambem sou cordelista.
Não enfrento repentista
Porque não toco viola
E as rimas da cachola
Não sai sem muito pensar.
Mas se eu tiver que brigar
Com um cabra trovador,
Sendo galo brigador,
Levo o sal para salgar.

Sou raposa lá do mato
E não conheço poleiro
Com galo no galinheiro
Que não possa ser logrado
E o galo ser levado.
Mais tarde a raposa astuta,
Caçadora e matuta,
Serve o galo no jantar
Depois que ele cantar,
Tremendo na cocuruta.

Vou agora a livraria,
Na festa de lançamento,
Cuja estrela do evento
É o Sebastião Marinho.
Vou abraçar com carinho
O amigo repentista,
Que sendo um grande artista,
Fez Romeu e Julieta,
O grande amor do planeta,
Em versos d’um cordelista.

ARIEVALDO VIANA:

Tá parecendo a disputa
De Pinto com Milanês
Porém garanto ao freguês
Que eu não fujo da luta
(Prefiro tomar cicuta)
Pois sei amarrar a rima
Bem vês que estou por cima
Com certeza a minha esposa
É o diabo da raposa
Que topou VIANA LIMA.

E para esquentar o clima
Já armei uma arataca
Se vier raposa fraca
É bom que traga uma LIMA
Lima por baixo, por cima,
Mas não pode se soltar
Pois o nó que eu amarrar
Cantador nenhum desata
Se for raposa da mata
Meus cachorros vão pegar.

Eu faço versos sozinho
Me inspiro só no vento
E ele no lançamento
Do Sebastião Marinho...
Acho bom tomar um vinho
Botar um rifle na maca
Melhorar a rima fraca
E vitaminas tomar
Para poder desarmar
O poder dessa arataca.

Josué de Nazaré:

Tome tento meu confrade
Que essa sua arataca
Não pega nem maritaca.
Tu é mesmo um matusquela
Falador só de balela.
Eu sou poeta criado
No sertão e no cerrado,
No verso amarro a rima,
Mas no mato eu uso a lima
Pra afiar o meu machado.

Quanto aquela posição,
De voce estar por cima,
Só facilita a rima:
Se tiver mais que sessenta,
Por cima é que se senta,
Em cima d’um tamborete.
Se acaso fizer cacoete
Porque o assento é muito duro,
Bamboleante e inseguro,
Relaxe e tome um sorvete.

ARIEVADO VIANA:

Por cima do minarete
Eu vislumbro o horizonte
Poema eu bebo é na fonte
Quadra, quadrão, gabinete,
Montado num bom ginete
Minha rima é benfazeja
Tomando a minha cerveja
E atentendo ao Rinaré
Eu convido o JOSUÉ
Para encerrar a peleja.

Josué de Nazaré:

Sobre a peanha dourada
Eu vislumbro o universo
Relendo verso a verso:
Quadra, quadrão ou sextilha
No folheto ou na apostilha.
Meu cordel é genuíno
Com verdades de menino.
Se não sou um Marco Haurélio
Pra vencer um forte prélio,
Me rendo, mas me amofino.

sábado, 23 de abril de 2011

Mistérios e proezas do Cordel. Minha Avó, O Cordel e Eu.

Avó: Maria Francisca da Silva, (Sá Maria)
Nascida em:
Macaúbas, Bahia, em 15 de maio de 1905,
Filha de: João Pereira da Silva e Maria Francisca da Silva.
Casada com: Manoel Gonçalves de Araujo,
Nascido em: Remédios, Bahia, em 19 de fevereiro de 1891,
Filho de: José Joaquim de Oliveira e Maria Rosa da Luz. (Bisavós)
Filhos de Sá Maria: Eliza, Maria Francisca (Dodó), Antonio, José, Ana, Joaquim, Otávio e Auzelita. Vivos somente: Ana e Otávio.
----------------------------------------------------
Depoimento do neto Josué Gonçalves de Araujo, escritor cordelista da Editora Luzeiro:
Sá Maria,
assim era conhecida a minha avó Maria Francisca da Silva. Teve papel relevante na minha vida literária e provavelmente no meu destino. Foi ela quem, numa noite de lua luminosa, quando ainda não havia energia na cidadela, contou a primeira história de Cordel para nós, que embevecidos, sentados no chão do terreiro, ouvia em silêncio. Acredito que só eu tenha gravado profundamente na alma, as emoções daquele instante mágico. Garoto de apenas 6 anos de idade, não conseguiu dormir naquela noite sonhando com todo aquele cenário de gigantes e heróis valentes e um linguajar estranho – em versos. Hoje sou um escritor cordelista da tradicional Editora Luzeiro Ltda, de onde saiu a história que ela nos contou: "A história do valente João Acaba-mundo e a serpente negra" de Minelvino Francisco da Silva que, coincidentemente residia em Itabuna-BA, onde morava uma filha da minha Avó. Todas as outras histórias contadas por ela estão lá nos livretos, alguns com páginas acidificadas ou manchadas pela ação do tempo, na editora.
Vale lembrar que a minha Avó era analfabeta, mas de tanto ouvir desde criança, as histórias dos livretos de cordel, ela tinha decorado tudo na memória. Influenciada por ela ou provocado pela magia do cordel que ela recitava em versos, passei a amar os livros e me tornar um escritor de cordel. Na primeira história do cordel eu encontrei um portal para um mundo virtual, onde tudo era possível. Onde eu teria ou poderia ser tudo o que não era no mundo real, da seca, da miséria, dos espinhos das lavouras em tempos de colheitas, dos sacrilégios da vida de bóia-fria no Pontal do Paranapanema. Assim era a força desse gênero da literatura em versos e rimas que alfabetizou muito nordestino que ansiava pelo saber. Os cientistas dizem que: “... a natureza sempre dá um jeitinho”, bem assim foi o nordestino diante das dificuldades da sobrevivência: sempre encontrou um beco, um atalho, uma trilha, um jeitinho, pois, de onde deveria vir o suprimento das necessidades básicas, não vinham nunca. Escola e recursos sociais e culturais, o governo, os políticos e os coronéis negligenciavam por conveniência.
O Cordel cumpriu o seu papel. Uma literatura em linguagem fácil, metrificada, rimada, versificada de fácil assimilação pelo povo nordestino do sertão carente dos recursos do conhecimento cultural das grandes cidades. Os escritores cordelistas da geração atual, luta pelo reconhecimento da supremacia desse gênero literário, que sempre ficou a margem da elite da literatura dita erudita, oficial, em razão do preconceito?
Sou eternamente grato a minha avó Sá Maria. Inspirado nela eu escrevi o meu primeiro romance em prosa com 187 páginas: “O mistério da Bruxa de Areia Dourada” onde a personagem "Nhá Maria" é a grande guerreira até depois de sua morte. Um dia vou transformá-lo em cordel. Esse romance deverá aparecer mais com o diferencial, “Em Cordel”.
Ainda sobre essa guerreira:
Sá Maria ganhou do seu padrinho, uma bezerra que ainda estava na barriga da mãe. Com essa bezerra ela fez uma boiada. Os bois foram criados soltos nas caatingas do sertão sem cercas de arame farpado e perambulavam pelo terreiro da casa como se fossem cachorros ou porcos domésticos. Quando os filhos de Sá Maria se largaram no mundo, engrossando as filas dos migrantes da seca, ela vendeu a boiada e partiu para o oeste do estado de São Paulo a busca dos filhos. Comprou uma casa com um grande quintal cercado de balaustres de madeira, bem na cidadezinha de Mirante do Paranapanema. Criou galinhas, cultivou uma horta e era a melhor saboeira da cidade. Fazia o melhor sabão de sebo e soda. Vendia as suas verduras, os frangos e o sabão para os moradores e para as mulheres do bordel, na periferia da cidade. Sá Maria, minha avó sempre foi auto-suficiente. Ela, não lia com os olhos, não escrevia com as mãos, mas usou os ouvidos para assimilar aquela forma de literatura, única fonte de cultura e conhecimento, possível. Dessa forma se tornou a minha primeira professora de literatura popular (oral), quando eu ainda não sabia ler e nem escrever.

sábado, 16 de abril de 2011

A editora Luzeiro lança o primeiro trabalho feito em parceria pelos poetas Josué Gonçalves de Araujo e Varneci Nascimento.


O jovem encarcerado e O CORDEL ENCANTADO
Veja a sinopse da obra:

“Aldione era um rapaz cuja beleza o condenou a uma maldição. Vítima de um passe de magia, encantou-se encarcerado vivo em uma rocha. Só o poder maravilhoso de um poema o salvaria desse degredo. Mas quem assumiria essa missão? Mistério e poesia nos darão a resposta neste cordel encantado”.

Veja as primeiras estrofes:

A cidade grande esconde
Os sentimentos da gente.
A ciência avançou muito,
Tudo está tão diferente
E nós sentimos saudade
Das coisas de antigamente.

Na cidade de São Paulo,
Em noite de muita lua,
Esquecidas do barulho
Que se espalha pela rua,
A vovó e a netinha
Vivem a noite só sua.

— Se não for pedir demais,
Vovó, me conte uma história,
Na qual o amor ao próximo
Seja a coroa da glória
E prestar ajuda aos outros
Seja o signo da vitória.

— Estela, se assim deseja,
Farei o que me compete,
Sem omitir os detalhes,
Tampouco jogar confete
Sobre aquele que foi preso,
Mas foi solto por Ivete.

(...)

Quer conhecer o resto da história? Compre o livro.
varnecicordel@yahoo.com.br
josuegaraujo@gmail.com
Contato com a Editora Luzeiro Ltda.
Tel/Fax: (11) 5585-1800/5589-4342
vendas@editoraluzeiro.com.br

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Rouxinol do Rinaré em Sampa com os cordelistas da Caravana

PERFORMANCE NA BIBLIOTECA BELMONTE -SP

Na foto (da esquerda para a direita do video) Rouxinol do Rinaré, Josué, Aderaldo Luciano e Varneci Nascimento. Encontro na Biblioteca Belmonte - São Paulo - para uma espécie de ALMOÇO LITERÁRIO onde o Doutor e Pesquisador Aderaldo Luciano "serviu" o prato principal numa performance genial sobre CACOFONIA.

sábado, 26 de março de 2011

Jornal A Tribuna - Batatais entrevista Josué sobre o assunto - Cordel

Eu fiquei satisfeito com a entrevista. Foi publicado exatamente tudo o que eu disse. Gosto de Batatais e agora já estou na história da cidade através desse jornal. Devia haver muito mais entrevistas sobre esse assunto. As pessoas não sabem o que é realmente cordel e principalmente as novas gerações. Vamos ver o que acontece nessa novela. Eu estou sempre a disposição para contribuir na divulgação dessa arte literária.
Agradeço ao Jornal, na pessoa do Jornalista Samuel e a Fany, também jornalista que viabilizou esse contato.

***

Posto abaixo o original da entrevista:

Perguntas enviadas pelo Jornal para serem respondidas:
Ao escritor cordelista Josué:
Tribuna
- Os Portugueses quando aqui chegaram introduziram a Literatura de Cordel, desde então essa arte tem passado por um processo de aquisição de identidade com características tipicamente Brasileiras, sendo difundida principalmente na região Nordeste do país. Como você analisa esse processo de transformação?
Josué - Não reconheço a origem do nosso cordel dessa forma. Segundo o professor Doutor Aderaldo Luciano, pesquisador do CNPq, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor de O auto de Zé Limeira e coordenador editorial da Editora Luzeiro, a principal casa de publicações em cordel, “o nosso cordel, apareceu no final do séc. XIX, no Recife-PE, onde foi impresso e ganhou a forma poética que o distingue.” Há quem afirme que a sua origem se deu na Paraiba, talvez porque o seu criador, Leandro Gomes de Barros, nasceu em pombal/Paraiba em: 19/11/1865 e morreu em 04/03/1918. – Foi Leandro quem Criou, formatou, imprimiu e difundiu o cordel, na forma de expressão como se mantém até hoje. Pode-se afirmar que o Cordel que conhecemos é genuinamente brasileiro.
Literatura de cordel ou simplesmente, Cordel?
Ainda segundo a tese de Aderaldo, “Como sabemos, o termo “Literatura de Cordel” é dado aos folhetos porque eles eram expostos à venda dependurados em barbantes ou cordéis. Tal denominação já era usada em Portugal... (BATISTA, op.Cit.,p.XXIII)” Na verdade, eu nunca vi e nem ouvi dizer que alguém tenha comprado um cordel dependurado em algum barbante e preso com prendedores de roupas. Todas as folhas soltas e/ou livretos dependurados em barbantes, lá em Portugal, ficou conhecido como “Literatura de Cordel”, mas, se foi Leandro quem criou o nosso cordel e tornou impresso o primeiro livreto, então, lá nos barbantes (cordéis) de Portugal, não podia haver nenhum folheto com as formatações do nosso Cordel.
Tribuna - Como você encara a atual abrangência dessa Literatura nas demais regiões do país? É bem difundida?
Josué: Sobre a abrangência do Cordel nas demais regiões do país, não tenho informações estatísticas precisas a respeito. Dos cordelistas da geração atual, alguns são, também pesquisadores do Cordel como é o caso do professor Marco Haurélio, que lançou recentemente o livro: “Breve história da literatura de cordel” , João Gomes de Sá que lançou “Alice no País da Maravilhas em Cordel”, Varneci Nascimento que entre tantos livretos da editora Luzeiro, também lançou pela editora Nova Alexandria o clássico “Memórias Póstumas de Braz Cubas em Cordel”, o nosso Aderaldo Luciano mestrado e doutorado em literatura com tese em Cordel e outros grandes cordelistas incansáveis na difusão do nosso cordel. Eles tem viajado pelo nordeste, tem pesquisado e eventualmente, trazem notícias do Cordel e dos cordelistas do nordeste mas, creio que o movimento maior, tem sido mesmo em São Paulo. Há o movimento denominado “Caravana do Cordel”, criado por um grupo de cordelistas com o apoio da Editora Luzeiro, também o grupo de estudos: “Roda de Cordel” e outros movimentos.

Tribuna - Quando falamos em Cordel, também estamos falando da arte da xilogravura. Ambas as manifestações artísticas compuseram uma união perfeita. Qual a sua visão a respeito das ilustrações presentes no Cordel?
Josué: Cordel é Cordel e Xilogravura é outra arte. Há informações de que, após 50 anos da existência do Cordel brasileiro, alguns autores passaram a se utilizar de ilustrações de Xilogravuras nas capas dos livretos de Cordel. Hoje se contrata um artista para criar e desenhar capas, a mão ou através da informática e nem por isso o Cordel perde as suas características.
O hábito de apresentar o Cordel através da cantoria do repente e/ou da xilogravura é falta de total conhecimento das origens do nosso Cordel. Xilogravura é uma arte, o cordel é outra e a cantoria é outra. O repentista pode cantar um cordel já escrito; Também ele pode criar e escrever um cordel, mas o repente cantado e normalmente acompanhado por uma viola é produto do improviso. O Cordel não é improviso. O Cordel é: Métrica, ritmo, rima, estrofação, lírica, épica e drama...
Tribuna - A Literatura de Cordel tem assumido uma forte função social ao tratar de questões como a coleta seletiva e reciclagem de lixo, enfim, o respeito ao nosso meio ambiente. Como você avalia o impacto de temas como esses sendo tratados no Cordel?
Josué - Para essa pergunta vou me valer da resposta do Cordelista Varneci Nascimento da editora Luzeiro, um dos fundadores do movimento “Caravana do Cordel”, visto que ele procura escrever sobre os mais variados temas:
“Avalio que é muito importante, visto que, usando a linguagem do cordel pode-se atrair muito mais os leitores que normalmente são jovens e adolescentes. A musicalidade e a rima do cordel oferecem esse dinamismo e só agora essa linguagem bela e secular começa a causar um maior impacto em todos os âmbitos sociais. Hoje em dia a maioria dos temas transversais como os já citados, estão sendo trabalhados pela linguagem cordeliana com grande êxito.”

Tribuna - Acredita que Literatura de Cordel recebe a atenção merecida por parte da sociedade ou é tratada de maneira superficial, como por exemplo, nos estudos voltados à Literatura Brasileira?
Josué: Drumond, publicou no jornal do Brasil em 09/09/1976, a crônica “Leandro, o Poeta”, onde registrou: “...que a láurea de, “O príncipe dos poetas brasileiros” outorgado em 1913 a Olavo Bilac, a rigor só podia caber a Leandro Gomes de Barros, planta sertaneja vicejando a margem do cangaço, da seca e da pobreza.” E conclui: - "Não foi príncipe do asfalto, mas foi, no julgamento do povo, rei da poesia do sertão, e do Brasil em estado puro".
O cordel continua a motivar, estudos e pesquisas nas áreas de Antropologia, Folclore, Lingüística, Literatura, História,... no entanto, os velhos conceitos de que a literatura de cordel, ou simplesmente, Cordel, é um subproduto popular, permanecem. Atentem para o termo “Literatura de Cordel” ou “Literatura Popular”, usado para se referir ao Cordel. O Cordel é poesia com todas as regras poéticas, tal qual a trova e o soneto. Alguém já ouviu o termo: Literatura de trova, ou Literatura de soneto? Não. O Cordel nunca esteve inserido nas antologias da literatura chamada de “erudita”, “oficial”. Por que?

Tribuna - Como educar e tornar a sociedade preparada para absorver a mensagem da literatura cordelista?
Josué: Primeiro através do currículo escolar. Não só a inserção no currículo, mas, o necessário apoio do governo para criar toda uma estrutura de apoio a impressão, divulgação e distribuição do Cordel a começar pelas escolas e colégios. Projetos de apoio a oficinas de cordel para os professores e/ou alunos. Maior utilização dos meios de comunicação, mas, sem confundir o ouvinte com apresentações de cantorias de repente e xilogravuras com o título de Cordel. Cada coisa no seu lugar.
Tribuna - Em poucas semanas, estreará na Rede Globo a novela Cordel Encantado, que trará em seu enredo um pouco dessa literatura. Isso é encarada de maneira positiva pelo senhor?
Josué: Sim. Toda forma de divulgação do Cordel é positiva e necessária. Com os primeiros anúncios da estréia da novela Cordel Encantado, nós os cordelistas percebemos alguma movimentação, telefonemas de pessoas perguntando a respeito, toda uma energia se ampliando nesse sentido. Por outro lado, eu, pessoalmente, tenho minhas preocupações com a forma de cordel que poderá ser apresentada:
Houve uma pesquisa ou palestras sobre o assunto com cordelistas? Quem? A classe dos cordelistas não é tão ampla quanto a classe dos escritores não cordelistas. Quais as fontes? Os primeiros anúncios de estréia mostram uma cantoria de repentes e imagens de xilogravura, mas e o Cordel?
O cordel é o “gênero de maior vitalidade na literatura brasileira” e como tal deve ser divulgado.

terça-feira, 15 de março de 2011

No jornal "A Tribuna" de Batatais


Era apenas um passeio de tres dias na casa de uma irmã em Batatais. Uma paz, silêncio,...percebi que a cidade voltou a tolerar a existência dos galos, que antes eram proibidos cantar. Na primeira madrugada, eu ouvi alguns cantos dos galináceos que enchiam de magia as minhas madrugadas de infância na cidade de Mirante do Paranapanema. A tarde sentei-me num banco de concreto de uma das praças da ciade. Menos de minutos e uma simpática jornalista, solitária pediu permissão para entrevistar-me sobre o clima da cidade. Pensei logo que era uma paparazzi, fiquei contente, mas logo acordei e vi que era uma jornalista fazendo o seu serviço da forma correta. O que que um paparazzi ia querer com um escritor cordelista de férias? O cordel ainda não ocupou o seu verdadeiro lugar ao lado do soneto, na literatura erudita, oficial.... A entrevista também foi curta e a promessa de uma reportagem posterior sobre o assunto Cordel. Estou no aguardo. No final de semana, eu estava no jornal A Tribuna de Batatais. Quanto a cidade, só posso dizer que tem um clima delicioso.
Josué

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Gato de Botas e Os 10 Mandamentos em Cordel por Josué G. Araujo


O Gato de Botas

"Ao receber um gato como única herança de seu pai, um jovem lamenta sua sorte. Mas alguma coisa naquele felino não era comum. A clássica história de Charles Perrault ganha nova vida no cordel."

...

A astúcia desse gato
Era muito conhecida.
O rapaz ouviu o gato
Com sua voz convencida,
Tratou logo de aceitar,
A proposta oferecida.

Em se tratando de caça:
Passarinho, inseto ou rato,
O bichano era certeiro.
Com um bote calculado
Capturava seu prato.

Dessa forma, o gato esperto
Calçou as botas compradas,
E, pondo o saco nas costas,
Adentrou nas invernadas,
Onde havia coelheiras,
Locais de muitas caçadas.

************

Os 10 Mandamentos

"A história bíblica de Moisés conduzindo seu povo pelo deserto transformou-se em clássico da literatura e do cinema. Do Monte Sinai, as tábuas da Lei chegam aos hebreus e, agora, ao cordel brasileiro."















...
Quando o homem foi expulso
Do jardim do paraíso,
Recebeu o veredicto
Pela falta de juízo
E passou difuso tempo
Amargando o prejuízo.

O maior dos privilégios,
Concernente à comunhão
Entre o Homem e o Divino,
Malogrou na excomunhão.
Lúcifer ganhou a terra,
E saiu sem arranhão.

Deus voltou a este mundo
Todo envolto em sua glória
Do santo monte Sinai,
Retomou a nossa história,
Revelando-se a Moisés
Em toda a sua oratória.

...

E "não terá outros deuses",
Nenhum deus, diante de mim.
"Eu sou o Senhor teu Deus",
Sem início, meio e fim;
Eu criei o céu e a terra,
Sou o eterno Elohim.

...

OBS:
Sempre com a coordenação editorial do Doutor Aderaldo Luciano, também responsável por essas bonitas sinópsis, impressas nas contra capas dos livretos. Um ótimo trabalho editorial. Os meus sinceros agradecimentos ao Gregório da editora Luzeiro e, também, a Aderaldo, que mesmo de longe, tem se empenhado arduamente para tornar isso possivel.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

RODA DE CORDEL


LOCAL:
Sede Central da Apeoesp
Praça da República,282 São Paulo
Sexta-feira, dia 11
a partir das 19h


abraço a todos

Em 8 de fevereiro de 2011 12:19, Aderaldo Luciano escreveu:

Há muito tempo vimos conversando sobre a necessidade de estudar o cordel em sua história e elementos constitutivos. Chegou a hora, não podemos esperar mais. Nesta sexta-feira, dia 11, a partir das 19 horas, na Sede Central da Apeoesp na Praça da República daremos início ao projeto Roda de Cordel, cujo objetivo é estudar o cordel e discutir seu futuro. Não é oficina, nem seminário, é grupo de estudos.
Pretendemos que seja itinerante, com temas eleitos a cada reunião. Esse primeiro momento é aquele no qual vamos destrinçar coisas complexas dentro do arcabouço cordelístico, a partir de autores significativos de nosso cancioneiro cordelial. Portanto não esqueçam, esse momento marcará novo rumo em nossa produção.
Participação de Aderaldo Luciano.

abraços e liguem ou mande e-mail para o Nando confirmando sua participação.
11-62922293

Aderaldo Luciano
Telefones:
Rio de Janeiro:
(21)24575525 (res.)
(21)88864247 (cel. Oi)
(21)83426640 (cel. TIM)

São Paulo:
(11)25781387 (editora)
(11)62344789 (cel. Oi)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Quem tem padrinho, não morre pagão" - Ainda sobre o concurso Literatura de Cordel

Extraido do blog: http://sentaapua.blog.terra.com.br/domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Esta semana recebi uma carta de amigo de São Paulo, o escritor Benedicto Luz e Silva,a qual transcrevo na integra para conhecimento das coisas que acontecem estranhamente nos bastidores da república."


São Paulo, 24 de janeiro de 2011.

Prezado amigo Monoel Marques - do Blog: sentaapua.blog.terra.com.br .

Um “amigo em comum”, que não nomeio por não estar autorizado, trouxe-me no final do ano passado a boa notícia de que o Josué, nosso amigo, havia recebido o primeiro lugar num concurso nacional do Ministério da Cultura para literatura de cordel. Sem conhecer o seu texto, eu e esse “amigo em comum”, concordamos ter sido um reconhecimento justo ao seu já longo trabalho em prol da cultura popular neste País. Quis escrever-lhe dando meus parabéns, mas as correrias do fim do ano impediram.
Na entrada de 2011, eis que nosso “amigo em comum” que você sabe quem é entra pela porta de meu escritório todo esbaforido, exclamando:
— Cesse tudo o que a antiga Musa canta, que outro valor mais alto se alevanta!
Quando lhe pedi explicação para aquele entusiasmo todo, retrucou:
— Entusiasmo, não! Revolta! Você não soube o que fizeram com o Mestre Josué? Azularam com o seu “primeiro” lugar no concurso do Ministério da Cultura. Agora ele é o “segundo”.
— Como assim? Juro que não estou entendendo. Transformaram a água em vinho?
— Quase. Aplicaram a máxima de Jesus de que os últimos serão os primeiros. Oitenta eram os premiados, até que descobriram que o (102º) centésimo segundo colocado, o desconhecido José João dos Santos, era na verdade Mestre Azulão. Esqueceram-se de outra máxima de Jesus, que diz que muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos, e fizeram justiça com as próprias mãos. Dizem que foi para corrigir uma grande injustiça. Só que cometeram duas outras: passaram para trás Mestre Josué e excluíram o (80º) octogésimo colocado. Não anularam o julgamento anterior, apenas desrespeitaram a Comissão Julgadora, que ficou com a pecha de incompetente, por não ter sido capaz de reconhecer em José João dos Santos o Mestre Azulão.
— Todo esse procedimento estava previsto no edital do concurso?
— Não. O Ministério da Cultura apenas cedeu a grita geral daqueles que acharam um desaforo que uma lenda viva do Cordel como Mestre Azulão tivesse sido passado para trás por tanta gente sem o seu inigualável currículo.
— Quer dizer: reprovaram o texto de José João dos Santos e deram o (1º) primeiro lugar ao inexcedível currículo de Mestre Azulão. Muito estranho e irregular. Bem fazia o rei Davi, que pedia para cair nas mãos de Deus e não nas mãos dos homens. Cumpriram o que propôs o rei Salomão: dividiram a criança ao meio. E os dois prejudicados, o 1º e o 80º, como reagiram?
— Mestre Josué, você sabe, é um cavalheiro e um verdadeiro cristão: ofereceu a outra face, ou seja, aceitou que Mestre Azulão se sentasse no trono, ficando ele como acólito. Ao (80º) octogésimo colocado, agora excluído, recomendo que apele à Justiça com um mandado de segurança ou qualquer outro tipo de ação cautelar, mas não sei o que ele decidiu, ou como reagiu. Eu é que não me conformo. Dizem que os cordelistas ficaram surpresos com o fato de um paulista, Josué Gonçalves de Araújo, ter sido premiado com o 1º lugar num concurso de Literatura de Cordel, quando havia ali um paraibano de peso, daí a reviravolta que foi dada. Dizem que era o mínimo que poderia ser feito para se corrigir a injustiça. Perguntei a um deles se tinha lido os textos de Mestre Josué e de Mestre Azulão para que tivessem tanta certeza de ter sido feita justiça, e ele me respondeu que “isso não tem a menor importância…” Aplaudem até hoje o que fez Cassiano Ricardo com Cecília Meirelles, ao lhe dar um prêmio da Academia Brasileira de Letras, “sem ler” os trabalhos dos outros concorrentes.
— Victor Hugo dizia que são exatamente os livros que nós não lemos que mais nos comprometem.
— Eles ignoram quem é Mestre Josué. Não sabem que desde garoto vem se dedicando à literatura popular brasileira. Com sua avó baiana, aprendeu os ritmos todos das narrativas em versos, que veio depois a aprimorar com o Prof. Paulino Rolim de Moura. Este, premonitoriamente, diagnosticou ser ele essencialmente um poeta, levando-o a passar dos contos e dos romances para o Cordel. Só por não ter ainda fama, praticaram essa autêntica capitis diminutio jurídica e intelectual. É aquilo de fazer a fama e dormir na cama. Josué Gonçalves de Araújo ganha de José João dos Santos, mas Mestre Azulão ganha de Mestre Josué. Sabe com quem esta falando?
— Eu aconselharia a Mestre Azulão a assinar daqui para frente José João Mestre Azulão dos santos, que pelo jeito não perderá mais nenhuma eleição ou concurso. Quem tem padrinho, não morre pagão. Uma vez vi o Tom Zé entrar no palco sem ser anunciado. Não tendo sido reconhecido, ao começar a cantar, foi sonoramente vaiado. Charles Chaplin participou anonimamente de um concurso para imitadores de Carlitos e tirou apenas o terceiro lugar. Se isso tivesse acontecido aqui no Brasil, na certa teriam corrigido a “injustiça”, e dado a ele o primeiro lugar, que, entre nós, quem pode mais, chora menos.
— Já aconselhei a Mestre Josué acatar os dois resultados: num, ele em 1º lugar e José João dos Santos em 102º; no outro, Mestre Azulão em 1º e ele em 2º. Não acha que estou certo?

Só pude concordar.

Abraço.

Escritor e Editor: Benedicto Luz e Silva

1º lugar (Medalha de Ouro) no segundo concurso para a outorga do
“PRÊMIO NACIONAL CLUBE DO LIVRO’
Com o livro; “Um corpo na chuva” - Romance com 150 Pg.
Editora Clube do Livro Ltda - 1972.

Publicou mais de 500 títulos de vários autores pela sua própria editora:
Editora do Escritor - Rua Barão de Itapetininga, 262 sala 227 – São Paulo-SP

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ao Mestre Azulão com carinho“ - Todo erro é compreensível, mas a correção desastrosa é imperdoável.

"O Ministério da Cultura, neste ato representado pela Secretaria de Articulação Institucional, no uso de suas atribuições legais, em cumprimento ao disposto na alínea “b”, Inciso I, do Art. 3º da Lei nº. 8.313, de 23 de dezembro de 1991, torna público o edital Prêmio “Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010 - Edição Patativa do Assaré” - em todo o território nacional.
“O investimento é de R$ 3 milhões, distribuídos entre os projetos selecionados” Diário Oficial da União.



O Projeto:

Parabéns ao Governo Federal por essa iniciativa. É uma migalha de incentivo para a nossa cultura, mas como diz o dito popular: É melhor lamber que cuspir”.

“...querem roubar a pureza, a nacionalidade de um país, destruindo a sua cultura. O brasileiro, ou qualquer outra nacionalidade, tem amor à sua pátria através também de sua cultura. E não tendo chance de apreciar e participar de sua cultura, é uma pessoa despatriada. Uma pessoa que não tem amor à pátria é que nem cocô na água, não sabe para aonde vai.” Parte de uma entrevista de Mestre Azulão, extraido do fotolog: http://fotolog.terra.com.br/cordelnaescola:153

Com esse projeto, o Ministério da Educação toma a iniciativa de apoiar a realização de projetos relacionados ao mundo dos: "Repentistas e Cordelistas".
Para nós, os cordelistas, parte da verba está destinada a financiar - 80 projetos com valores até sete mil reais cada.
Qual dos poetas que animados com essa novidade, não sonhou com a inclusão do seu projeto na lista dos selecionados? Eu também sonhei. Tanto que enviei o meu projeto. Transformação de um conto dos irmãos Grimm "Os três cabelos de ouro do diabo, em cordel". Anexo ao projeto, enviei o meu currículo literário.

Resultados:
No dia 14 de dezembro de 2010, saiu um edital no Diário Oficial da União, página 18 – “Relação dos projetos classificados”. No topo da lista, com 89 pontos, constava o meu nome: Josué Gonçalves de Araujo/SP.
Difícil foi acreditar. Por que eu, no primeiro lugar da lista? O meu primeiro cordel havia sido lançado em, (não mais que dois anos atrás). Era normal a minha esperança de estar incluído entre os aprovados, e se fosse a ultima posição – 80ª, seria motivo de muita alegria.
Não teria havido algum engano?
No dia 22 de dezembro de 2010, saiu novo edital e houve correção na lista dos aprovados. Agora constava no topo da lista com 90 pontos, o nome de José João dos Santos. Quem? Na verdade, conhecido como o “Mestre Azulão – lenda vida do cordel, com fama internacional. Vale lembrar que na primeira classificação, ele constava na posição 102ª – desclassificado.
Passei então a ocupar a “honrosa” segunda posição, (em boa companhia), mas infelizmente, aquele poeta – Rivani Nasário de Oliveira do Espírito Santo de Olinda - Pernambuco, que também sonhou e que estava na posição 80ª - ultimo dos aprovados da lista anterior, passou para a 81ª, sendo automaticamente (desclassificado). Esse poeta foi o único prejudicado.

Critérios:
 Quais os critérios usados na avaliação que gerou a primeira lista?
 Quais os critérios usados para a correção relacionada ao Mestre Azulão que gerou a segunda lista?
 Quais os critérios de avaliação para realocá-lo no topo com 90 pontos?

O edital de correção foi uma resposta a “grita” de vários poetas cordelistas, inconformados, e com razão, do fato de o Mestre Azulão – (José João dos Santos) - ficar de fora do primeiro concurso dessa natureza.

“Outras distorções lamentavelmente permaneceram. Numa delas, a tese de doutoramento de Aderaldo Luciano, aprovada com louvor na UFRJ, foi excluída, não alcançando sequer a pontuação mínima.
Felizmente, a inclusão de Mestre Azulão atenua em parte os equívocos cometidos.” (extraído do blog: http://fotolog.terra.com.br/marcohaurelio)

Ainda, não tenho resposta para essas perguntas. Temo que essa correção, da forma como foi feita, venha a lançar dúvidas sobre os critérios utilizados na avaliação dos classificados:

Os erros:
 Erraram tanto na primeira avaliação?
 Ou erraram mais ainda na correção?
 A coerência do reconhecimento dos erros que forçaram a realocação de um poeta das últimas posições (com 57 pontos) para a primeira posição, (agora com 90 pontos), não inverteria a ordem dos classificados da primeira lista?
Seria absurdo esperar eficácia dos nossos órgãos públicos, mas eficiência é fundamental. Todo erro é compreensível, mas a correção desastrosa é imperdoável.

Injustiça:
O nosso querido Mestre Azulão não merecia isso! Ele é homem simples e honrado; um poeta sério e autêntico. Eu tenho por mim que, o verdadeiro poeta vive para alimentar a sua alma e isso não se coaduna com a demasiada ambição material, com o poder ou com as angustias do ego.
O resultado do que fizeram e refizeram, de forma dúbia, com a participação de Mestre Azulão nesse concurso, não condiz com o que ele é; com o que ele representa e com o que ele prega.

Minha admiração:
Sonho ir a São Cristovão no Rio de Janeiro para visitá-lo; apertar a sua mão, como se apertasse a mão de todos os cordelistas que povoaram a minha imaginação infantil, nas longas noites.

Minha verdade:
Sem querer ser tartufo ou condescendente, afirmo e ratifico em qualquer tempo, que julgo o projeto - “a tese de doutoramento de Aderaldo Luciano” - de maior importância, para o mundo do cordel, que o meu próprio projeto. Temos muitas obras boas – livretos de cordel – publicadas ou sendo publicadas de norte a sul, mas um projeto como o de Aderaldo é raro. Já dizia Albert Einstein: “não existe um ponto, verdadeiramente fixo no universo, tudo se movimenta e se evolui”. Isso vale, também, para o cordel. Um leitor se emociona e se impressiona com uma obra literária, justamente porque o seu conteúdo lhe parece inédito, além do seu alcance ou imaginação. O poeta autêntico tem obrigação de estar à frente, seguir em frente, ou seja, evoluir. Qualquer forma de temor ou resistência ao “novo” é ausência de pureza da alma e ou autenticidade da sua dádiva poética. A poesia é um instrumento de sublimação da alma humana. É por essa razão que um poeta é um poeta e um executivo é um executivo. O óleo e a água não devem se misturar.


Josué G. de Araujo

Zé Da Luz - Poesia nordestina - Cantadô e Violêro


Eu nunca aprendí a lê.
Eu nunca tive im iscóla.
Mas, Deus mi deu o sabê,
De sê impruvisadô
E tocadô de viola.

Eu não invejo a sabênça
De nenhum hôme letrado.
Deus mi deu intiligênça,
Qui tem feito diferença
A munto doutô formado.

De que serve os anelão
Qui êsses doutô tem nos dêdo,
Se de uma impruvização
Êles não sabe o segrêdo?

As iscóla, a Acadimía,
Faz doutô de todo geito:
- Faz doutô de inginharía;
Doutô Juiz de Dereito;
Doutô prá curá duênça;
Faz inté doutô dentista.
Mas, nunca há de fazê,
Um doutô saí de lá,
Formado na puisía,
Num puéta repentista!

Quando eu pego na vióla
Qui óiço o gemê das prima,
Os verso sái da cachóla
Im cachuêras de rima!

Praquê maió aligría,
Prá um cabra impruvisadô,
De que numa canturía
Êle lová u'a moça,
Pra dispôis dela lováda,
Fica tôda derrengáda
Agradicendo o lovô?

E a vióla, contente,
Ficá tocando um baião,
Inquanto o cabôco sente,
Outra vióla tocando
Cá dentro do coração?...

Se os versos q'eu impruviso
Não tem graça nem belêza,
Piçuí um grande valô:
- Êsses verso, eu aprendí
No livro da Naturêza
Tendo Deus pru professô!

O cantadô de repente
Tem tudo qui êle quizé:
- Tem os rio, as cachuêra,
Tem as noite inluaráda,
O rompê das arvoráda
E a graça das muié!

E tem o céu brasilêro
Qui cobre as terra Norte!
E tem o cabôco forte,
Tem o valente vaquêro,
As "Festa de Apartação",
Tem o calô das fuguêra
Das noites de São João!

Tem os cabôco valente
Flô da alma do sertão!
Êsses cabôco ribusto,
Qui vinga a honra ultrajada,
Sem tê mêdo, sem tê susto,
Cum um "Bacamarte" na mão!

Praquê livro ou iscóla,
Praquê ané de doutô?
Se eu piçúo uma vióla,
Tenho livro e prufessô;
Tenho Deus e a Naturêza
Aonde tá a grandêza
De tudo qui Êle criou!?
* * *
Eu sou feliz, meu patrão.

Eu vivo nesse mundão
Bem satisfeito e contente.

E peço à Deus das artura,
(Ao meu grande prufessô)
Qui não mi farte o repente,
Esse dom qui Êle mi deu
Cum Seu pudê verdadêro
De eu sê impruvisadô,
Cantadô e violêro!

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