sábado, 28 de novembro de 2009

Homenagem póstumas aos poetas: Elisa Barreto e Paulino Rolim de Moura

Jornal Gazeta Penhense
Elisa Barreto


“Poetisa Elisa Barreto sofre acidente em casa.
A poetisa Elisa Barreto, tradicional moradora da Penha, sofreu uma queda, dia 10, em sua residência, tendo que ser internada no Hospital do Servidor para se submeter à uma intervenção cirúrgica.
A poetisa fraturou o fêmur e foi operada no dia 11, informou o escritor Paulino Rolim de Moura, seu marido. Na semana passada, os dois estiveram no centro da Penha, fazendo uma foto defronte ao Edifício Santa Amália, para um suplemento especial do jornal Diário do Comércio. O casal se conheceu em 1951, durante um baile de inauguração daquele prédio, se casaram e estão juntos até hoje. A festa foi muito concorrida e marcava a inauguração do primeiro edifício com mais de 3 pavimentos no bairro. Embora com mais de 80 anos, Elisa Barreto continua a produzir poesias de alta qualidade, além dos 9 livros publicados, sendo uma das inscritas para o Prêmio Nobel de Literatura deste ano.”
No último dia 6, sábado, ela enviou sua última produção para nosso jornal:

O TREM QUE PASSA

Ser como nuvem que passa
ou como a estrela que cai
é ter a divina graça
que de um polo a outro vai.

Ser como o trem de carreira
que ao longe na curva apita
e enfeita a planície inteira
com o eco de sua grita.

Ser como o Mar traidor
e lutar contra a maré;
o seu eforço dá flor
e você mostra quem é.

É preciso ser alguém
Não deixe a vida passar
porque sempre passa o trem
que a gente deve pegar. "

Redação - 16-03-2004 - [412]

***
Foi uma frustração descobrir que eram meus vizinhos há muitos anos e não nos conhecemos. A poetisa Elisa passou muitas vezes pela rua da minha casa, como uma pessoa comum. É frustrante imaginar, que se eu a conhecesse antes, não a teria deixado em paz com a minha ansiedade literária.
Felizmente conheci o seu marido, Paulino Rolim de Moura, escritor e grande defensor da Poesia lírica. Ele já estava na casa dos 80 anos de idade. Nossa amizade durou, aproximadamente, 3 meses, mas foi o suficiente para aprender muito sobre Poesia. Aprendi a compor sonetos e trovas. Acho que depois disso, criei coragem para mergulhar no Cordel. Durante cinco décadas ao lado de Elisa, Paulino procurou dedicar-se a promoção da carreira poética dela. Foi uma bela história de amor e poesia. Todos os finais de semana eu descia a calçada da rua da minha casa e batia na porta de Paulino. Sabia que não havia muito tempo. Paulino não viveria um ano sem a sua musa. Numa bela manhã de domingo, Paulino me telefonou e convidou-me pra almoçar em sua casa. Lá estava eu novamente, sorrindo com ele, folheando os livros de Elisa, tomando um vinho ao lado de uma feijoada. Meu Deus! Feijoada! E ele só tinha 80 e poucos anos. Foi o melhor dia de todos, em que estivemos juntos, mas também foi o último. Paulino partiu para encontrar a sua poetisa. Pensei em quantos corruptos, vampiros das almas inocentes que poderiam partir desse mundo, para que o mundo fique melhor, mas Deus leva um poeta para deixar o mundo pior. Não conheci Elisa pessoalmente, mas sei que Paulino falou de mim, quando a encontrou. No final, todos nós, os poetas, nos encontraremos nesse paraíso dos poetas.
Paulino tentou transformar-me em um poeta lírico, mas eu me tornei um poeta Cordelista.
Obrigado Paulino, se depender de mim, vocês serão sempre lembrados.

O que vejo por ai... Bebida provoca danos aos cofres públicos.

Pois é! As 15 horas, do dia 27 de novembro de 2009, flagrei essa cena na rua 7 de abril. No coração da Sampa. O pobre desempregado bebeu muito e se apoiou na lixeira pública! Mas nem a lixeira pública deu guarida ao pobre ser humano, vencido pela fraqueza física, psíquica, filosófica, teológica... Não! Ele não suportou a sua própria carga. Nem a lixeira pública, tanto que arriou, quebrou-se, tombou para o lado. Nesse estado deplorável da condição humana, ele, o pobre homem, se torna invisível aos olhos dos semelhantes. Invisivel aos semelhantes, obviamente, não estou falando dos semelhantes ao seu estado de miséria, mas ao próximo humano. Mas para a minha câmera de um simples apaarelho de celular, ninguém é invisível. A câmera não precisa olhar nos olhos para enchergar um desventurado, um morador de rua, um mendigo,...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

São Paulo e a Caravana do Cordel

"São Paulo e o cordel
A semana passada estive em São Paulo por 5 dias para inteirar-me do movimento, que virou escola, Caravana do Cordel. Diante desses empreendimento de poetas cordelistas em torno do seu principal produto cultural, o cordel, tudo parece pequeno. A produção continua firme, as publicações também. As editoras aos poucos estão abraçando a causa. E os meios de comunicação, decobrindo o material. Aliás, ontem, dia 26, foi para o ar pela Rede Internacional de Televisão, a RIT, da Igreja da Graça, do missionário R.R. Soares, matéria no Nosso Programa, programa de variedades, à tarde com os cordelistas João Gomes de Sá e Varneci Nascimento. Esse fato é pontual na história do cordel. Foi alvissareiro ver na tela imagens do cordel Homossexualidade: história e luta, de Varneci e Nando Poeta. Bem como Os dez mandamentos do preguiçoso, do mesmo Varneci. A Caravana está forte e crescendo.
Desse encontro surgiu a palestra sobre Leandro Gomes de Barros, no dia 19, para uma plateia de cordelistas e músicos. No meio deles achava-se Gregorio Nicoló, dono da Editora Luzeiro, a mais antiga casa de publicação de cordel no Brasil e uma das primeiras editoras de São Paulo. Gregorio tem sido peça chave na consolidação do cordel publicando autores novos e consagrados e recebendo com rara sensibilidade estudiosos que queiram olhar o seu acervo. Desse nosso encontro saiu a parceria para novos empreendimentos em termos de publicação de Antologias de cordel.
Passei, ainda, na Editora Nova Alexandria, na qual trabalha o poeta Marco Haurélio, figura ao redor da qual se construiu a Caravana. Marco é curador da já afamada coleção Clássicos do Cordel. É um homem cuja pena de poeta complementa o tino de pesquisador e a visão de mercado. Acabou de publicar pela Paulus a Lenda do Saci Pererê, em cordel, com ilustrações da pernambucana Elma. Uma edição magnifica, de luxo. Veio juntar-se a O príncipe que via defeito em tudo, publicado anteriormente pela Acatu, com ilustrações de Nireuda Longobardi.
Além dos consagrados tive a oportunidade de travar amizade com Pedro Monteiro, cordelista estreante autor de Chicó, o menino das cem mentiras, quando retoma o personagem clássico do cordelismo brasileiro, menos conhecido do que seu parceiro João Grilo, mas tão importante quanto. Pedro Monteiro é um autor síntese cuja produção é regida pela pesquisa e pelo rigor. Apesar de estar começando, seu traço poético deixa entrever um futuro promissor. Começar no mundo do cordel com Chicó é ousadia e conquista.
Outro de quem me acheguei foi Nando Poeta. Já com alguns títulos no matulão, Nando é o poeta engajado. Ativista político, trouxe para o cordel as lutas sociais. Assim seus folhetos 1º de maio, Assédio moral é crime e Educação não é mercadoria preenchem uma lacuna, sem se despedir do essencial no cordel: a poesia. Alertado para o fato de não cair no panfletarismo, Nando busca o equilíbrio entre o lírico e o épico. Mas é necessário andar devagar para dosar as cores sem exageros.
No dia 19, quando de minha palestra, foi lançado um cordel de Benedita Delazari intitulado A escravidão negra e o quilombo dos Palmares, com ilustração de capa de Cícero Soares. Em duas cores, preto e marrom, esta capa impressiona pela maestria, colocando por água a tese de que o cordel tem que ter obrigatoriamente uma capa de xilogravura. Em tópicos futuros apresentarei um por um esses cordeis e falarei mais dos cordelistas em São Paulo, disputando a vanguarda com o Ceará. Vanguarda que já foi paraibana, mesmo produzida a partir de Recife. Outra história."


Trecho extraido do blog: http://adercego.blogsome.com/

***

"Doutor Aderaldo
Aderaldo Luciano, paraibano radicado no Rio de Janeiro, pesquisador, professor, músico e poeta, agora é, também, doutor. Doutor em Literatura. E, mais: sua tese vai na contramão dos estudos sobre o cordel, os antigos e os “mudernos”, ancorados em argumentos frágeis, pouco criteriosos, desrespeitadores da individualidade poética, responsáveis pelas paliçadas erguidas entre uma suposta literatura erudita e a – assim chamada – popular.
Parabéns, mestre, ou melhor, doutor! "

Marco Haurélio, poeta e curador da coleção Clássicos do Cordel, da Editora Nova Alexandria.

"Procure o Doutor:
Agora temos um doutor paranos “receitar” preventivamente e medicar umas “meisinhas” para curar alguns delizes no universo cordeliano.E aí vai: como uma manifestação literária genuinamente brasileira,desprezada pela cultura acadêmica, denominada gênero nemor ou subliteratura ou ainda manifestação marginal em verso é tão popular?Agora, requer, em verdade, um amplo debate, simpósio, fórum para aparelharmos com fundamentação as nossas ideias e teses.Um abração para o Cangaceiro Doutor ouDoutor Cangaceiro da Serra da Borborema!Parabéns!"
João Gomes de Sá, poeta e dono da cultura em Guarulhos-SP

"Sou potiguar e um curioso sobre a literatura de cordel. Aliás, também colecionador. Já acompanhei Aderaldo Luciano em duas edições do programa “De Lá Prá Cá”, da TV Brasil: Mestre Vitalino e Patativa do Assaré. Boas intervenções.Espero que em breve, essa tese seja transformada em livro, para o devido acesso ao seu precioso conteúdo.Parabéns! "
Carlos Alberto, cordeleiro de Natal-RN

"Aderaldo Luciano, como simples aprendiz da poesia de cordel, apenas quero lhe agradecer pela grande contribuição que você veio nos trazer. Certamente sua tese de doutoramento vem para corrigir muitas distorções sobre o cordel, pois não são poucos os equívocos que vemos por aí. Assistindo sua palestra, há um ano, em Guarulhos, no primeiro Salão do Cordel, pude ver seu grande conhecimento, e sei que não é diferente a sua tese. Estou ávido por lê-la. Bem vindo, poeta doutor, ou doutor poeta, saiba que você encontra em nós cordelistas verdadeiros irmãos. Parabéns por mais essa conquista!"
Varneci Nascimento, poeta maior da Ordem Franciscana Menor, de São Paulo

"Passe para frente o seu
Valioso aprendizado.
Não retenha este poder
Pra não ser penalizado,
Com a dor na consciência
Vendo o povo atrasado.
Parabéns poeta Doutor.
Que os horizontes se alarguem, e até o debate se acalore! Mas a sede do aprender, possa ser saciada."
Pedro Monteiro, a pedra angular da poesia, de São Paulo.

Eu conheci Aderaldo, no dia da homenagem a Leandro e tive o prazer de tomar um café com ele e outros amigos cordelistas, na galeria Califórnia do centro de Sampa.
Fiquei encantado com a palestra do Doutor em literatura e com o seu interesse, no que se refere ao futuro da Caravana do Cordel e os seus objetivos. Faço minhas todas as palavras dos meus confrades, acima.
Josué G. de Araujo

Diário Crítico

Cutucando a onça com vara curta

“Relembro outra vez: eu tinha meus quatorze anos, quando um empurrão violento me atirou de encontro aos livros. Na sala de aula, o professor de Português tomou minha composição para exemplo de como todos nós seus alunos escrevíamos irremediavelmente mal. De pé, ao lado da cátedra, ouvi a catilinária sem esboçar nenhum protesto, porém, ao me sentar, sob o deboche geral dos colegas, jurei a mim mesmo que aquilo não iria ficas daquele jeito, não. E não ficou. Passei a ler muito, acostumando-me a refletir sobre as palavras que lia, vendo-as como potências vivas para o que eu queria dizer. Não demorou muito, e o mesmo professor, em frente à mesma turma, ao comentar uma nova composição minha, disse que eu havia nascido com a pena e que seria glória nacional. Claro que eu não havia nascido com a pena, nem me tornei glória nacional. O pouco que alcancei realizar, oi sempre fruto de muita luta para aprender a fazer.
“Foi assim que aprendi a escrever, lendo a Bíblia, disse uma vez Ernest Hemingway, mas eu não aprendi a escrever lendo apenas a Bíblia. Descobri que ler era divertido e escrever muito mais. Aprendi com meus próprios erros, porque só aprendemos errando, porque a vida sempre traz em si o certo e o errado, e a nós cabe escolher a melhor saída. Para minha sorte, na época, caiu-me nas mãos um artigo sobre Descartes, em que eram dadas a suas quatro regras básicas: 1º) que se deve partir sempre do mais fácil para o mais difícil; 2º) que se deve dividir cada uma das questões que vamos enfrentar por etapas; 3º) que não devemos aceitar nada como verdadeiro sem antes procurar vê-lo como tal; e 4º) que devemos fazer uma enumeração completa de tudo, para que possamos ter a certeza de ter compreendido realmente o assunto. Esse foi o meu método de trabalho ao longo das vida, mesmo que, mais de uma vez, tenham me dito que o cartesianismo estava superado, A primeira vez foi naquela mesma ocasião, quando um professor me disse que eu deveria tomar como modelo uma filosofia mais moderna. Quando eu lhe perguntei qual, ele ficou de me dizer na próxima aula, mas nunca mais tocou no assunto. Assim, preferi ficar com descartes mesmo, e não me arrependi. Foi com ele que aprendi a seguir a minha própria intuição.
Alguém disse um dia que todo mundo sempre se julga capaz de escrever um livro e comandar um exército numa batalha. Talvez por isso existam tantos livros ilegíveis e tantas guerras perdidas. Fundamental que se aprenda primeiro a arte de pensar, porque, afinal, a linguagem é uma forma de comunicação e a primeira obrigação de quem comunica é não dizer bobagem.”
Benedicto Luz e Silva
Escritor e Editor
***

O professor estava certo.

O meu mestre de literatura também levou uma bela cutucada, na sua juventude. A onça ficou arisca, razão pela qual, providenciou novas e eficazes medidas de proteção. Não creio que a dor da humilhação, possa transformar um artista em um cientista; um homem sem talento em um escritor de respeito, ou um cantor de sucesso, um artista plástico ou algo dessa natureza. Acredito que o talento é natural em algumas pessoas, mas parte dessas pessoas privilegiadas passa pela vida, sem jamais tomar consciência do seu próprio talento. Uma cutucada pode ou não despertar esse talento que já existe, ou não, dentro das pessoas.
“...disse que eu havia nascido com a pena e que seria glória nacional.”
Aquele jovem havia nascido mesmo com a pena e alcançou a glória nacional.
Benedicto Luz e Silva, aquele garoto que foi cutucado pelo professor, se tornou Escritor e Editor. Venceu um concurso nacional - 1º lugar (Medalha de Ouro) no segundo concurso para a outorga do “PRÊMIO NACIONAL CLUBE DO LIVRO” com o livro: “Um corpo na chuva” – Romance com 150 Páginas. Editora Clube do Livro Ltda – 1972.
Vencer um concurso nacional de literatura, não é alcançar a gloria nacional?
Josué Gonçalves de Araújo
Escritor e Poeta Cordelista

domingo, 15 de novembro de 2009

Sobre Poesias e ecologia

A estudante e poeta Érica Araujo, 8º membro vitalício da Academia Estudantil de Letras Cecília Meirelles, ganhou um concurso de poesias no site: http://www.gargantadaserpente.com

“A respeito do concurso: Tomei conhecimento através da Vivi, professora de Teatro da AEL Cecília Meireles, que me indicou o site. Esse site contém muitos concursos literários destinados à crianças, jovens e adultos. De início me interessei pelo IX CONCURSO LITERÁRIO “PRÊMIO CLEBER ONIAS GUIMARÃES” 2009. No link você encontra a Comunidade do Conselho Comunitário, responsável pela organização do concurso, com mais informações, inclusive o regulamento e resultado.”
*
"MISTERIOSA TERRA"

És Misteriosa Terra,
Espetáculo sem igual,
Inspiração pra teus poetas-
Verde, Vida, Tão Vital.

Águas correm sem parar,
Teu silêncio é canção;
Vamos á praça da Paz
Paz de Língua, Cor, Nação.

Conheci tua morada,
Teu Universo, teu infinito,
Além do mundo tuas estrelas,
Teus cometas em agito...

Sou herdeiro do Futuro,
De tuas selvas, campos e flores,
Da preciosa, Mãe Natureza,
Teus rios e mares- Teus Amores!

Já não sei o que fazer,
Mas por ti serei capaz.
De defender tua criação.
Do homem que não vê o que faz.

És Misteriosa Terra,
Do Universo o coração,
Pois guardaste milhões de vidas
Que permanecem mesmo quando vão!

Érica Araújo

sábado, 14 de novembro de 2009

Caravana do Cordel homenageia o Dia do Cordelista

Xilogravura de Arievaldo

Caravana do Cordel é um projeto coletivo, construído por poetas populares nordestinos radicados em São Paulo. O grupo, formado por poetas, artistas plásticos, músicos e pesquisadores, vem alcançando grande sucesso em suas reuniões mensais no Espaço Cineclubista da Rua Augusta e nos eventos realizados em São Paulo e no entorno da capital, mantendo viva a tradição itinerante da poesia popular.

No dia 19 de novembro, que marca o 144º aniversário de nascimento de Leandro Gomes de Barros, maior expoente do gênero, a Caravana do Cordel preparou várias atividades para homenagear o patriarca da poesia popular brasileira. Dentre as atividades, uma mesa redonda discute a atual realidade da literatura de cordel, as vitórias e os embates a serem travados num campo em que o preconceito e o desconhecimento ainda são enormes. Outras atividades mostrarão a riqueza temática da literatura de cordel, confundida por leigos com a poesia matuta, ramo distinto da poesia popular. Haverá, também, exposições de gravuras e a já tradicional feira de cordel apoiada pela Editora Luzeiro.

Programação

19h - Mesa redonda: Cordel: conquistas e desafios:
Debatedores: Moreira de Acopiara e Marco Haurélio - Mediador: Pedro Monteiro

20h - Palestra: Leandro Gomes de Barros: desbravador do Cordel, ministrada por Aderaldo Luciano, Doutor em Letras pela UFRJ.

21h – Sarau poético com membros e apoiadores da Caravana do Cordel

21:30 h – Apresentações musicais de Cacá Lopes, Costa Senna, Jackson Ricarte, Luiz Wilson e convidados.

Serviço

O quê? Dia do Cordelista: homenagem a Leandro Gomes de Barros

Quando? Dia 19, às 19h

Onde? 282 - São Paulo SP - Fone: 3350-6000

Entrada franca

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Diário Crítico

Cutucando a onça com vara curta
Outro dia, eu conversava com o Josué Gonçalves de Araújo, e ele me disse achar que, a seu ver, o Brasil nunca esteve tão bem, em toda a sua história, quanto agora, com uma economia em franco crescimento. Eu, então, me limitei a lhe perguntar como pode achar isso, se o País, com uma população de cerca de 200 milhões de habitantes, tem cerca de 70 milhões de pessoas (ou seja, cerca de 30%) dependentes do Bolsa família, e apenas cerca de 25 milhões de trabalhadores com carteira assinada (ou seja, cerca de 12%).
Foi só isso o que eu coloquei, mas ele não deixou por menos e me acusou de não gostar do Lula, por isso vejo apenas o que acho ruim no seu governo. Respondi-lhe que não acho nada, porque, achar ou não achar, não tem a menor importância.
- Lula pouco me importa, como pouco me importaram todos SOS outros governantes anteriores, desde Getúlio Vargas. Importa-me o sistema vigente no Brasil, que é o feudal, desde as capitanias hereditárias. Para se dar bem, é preciso que se seja amigo do rei, e eu nunca fui amigo de rei nenhum. Por isso, nunca fui embora para Pasárgada. Em minha vida toda segui aquilo que dizem do espanhol: Hay gobierno? Yo soy contra.
- Por isso, age como um amigo meu, que apoiou os militares e é malufista até hoje: só recorta jornal dos jornais os dados negativos do governo Lula, nunca os positivos – ouvi como contra-argumento.
- O senhor me respeita! Não me conhece o suficiente, para fazer esse tipo de comparação. Uma coisa que aprendi na vida é que só a verdade pode nos libertar, e isso foi o que sempre fiz e não vou deixar de fazer. Se a população do Brasil equivale a 3% da população mundial e o seu PIB não chega a 0,5% do PIB mundial, como pode a economia do País ser tão robusta, como dizem que é? A capacidade de pensar em termos lógicos e concretos é essencial para um escrito, e você, em sua predisposição mental para aceitar determinadas opiniões alheias sem analisá-las, está impedindo ou dificultando que chegue às conclusões as mais simples. Está precisando aprender a raciocinar melhor com a própria cabeça.
Eu, que acreditei que estava acrescentando mais um ex-amigo à longa lista daqueles que não agüentaram as minhas impertinências, tive a grande surpresa de ouvir Josué Gonçalves de Araújo me dizer:
- Acho que você tem razão. Por que não escreve uma coluna no meu blog na internet explicando tudo isso? Tem muito a ensinar a quem quer aprender. E eu quero aprender.
Essa é a razão deste Diário Crítico, no qual tentarei excogitar erros e ignorâncias dos quais não me excluo.
*
Escritor e Editor: Benedicto Luz e Silva
1º lugar (Medalha de Ouro) no segundo concurso para a outorga do
“PRÊMIO NACIONAL CLUBE DO LIVRO
Com o livro: “Um corpo na chuva” – Romance com 150 Pg.
Editora Clube do Livro Ltda – 1972.

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A honestidade é inviável as regras básicas da política
Por: Josué Gonçalves de Araújo

“Descobri o escritor Benedicto Luz e Silva recolhido em sua sala no Edifício da Paz, no centro de São Paulo. Ele passa as manhas em sua sala, só, com os milhares de livros. Quando soube de um escritor solitário, naquele edifício, exigi que me levassem até ele. Deixaram-me dentro da sua sala, na sua presença e eu me apresentei como um discípulo procurando um mestre. Assim começou o nosso relacionamento literário. Quando eu falo besteira, o mestre explode, mas quando percebe que eu não o deixarei, então, tudo fica bem.”

Cutuquei a onça...

Aliás, eu descobri, muito cedo na vida, que se você quer ser um sábio, deve andar com uma “varinha curta” pendurada no pescoço. Não tem nada a ver com as fadas, os bruxos, regência de orquestra, não, a varinha é para você, jamais perder uma oportunidade de cutucar, toda e qualquer onça que passar a sua frente. É assim que um dia, talvez, você se torne um tomador de onças. Foi Sócrates quem disse: “Conheça a ti próprio e estarás montado em um tigre”, eu vos digo, conheça a ti mesmo, cutucando onças.
Relativamente, às afirmações feitas por mim, que tanto sensibilizou o intelecto do meu mestre de literatura, para a questão da economia do Brasil, eu assumo: é verdade. Eu disse mesmo, mas é assim que cutuco as onças. Não resisto a proximidade de uma onça sem dar-lhe uma cutucada. Não ponho a mão no fogo por nem um político. Não é que seja impossível, a honestidade para um ou outro político, na verdade, a honestidade é inviável as regras básicas da política. Um político honesto não esquenta o assento da sua cadeira. As minhas afirmações foram oriundas de um pequeno fato real; No exercício da minha função em uma Administradora de imóveis, eu portava uma relação de imóveis para locação, com 300 imóveis que mensalmente, baixavam-se 10% e lançavam-se novos imóveis, na mesma proporção. Isso se manteve inalterado por mais de 8 anos e, nos últimos 2 anos, essa lista diminuiu. Mensalmente e gradativamente, o ritmo das locações foi acelerado e, atualmente, não tenho mais nem uma lista de imóveis vagos. Será que aquelas pessoas que moravam com a sogra, com os pais, com os cunhados ou nas ruas, passaram a ter maior ganho, a ponto de viabilizar a locação de um imóvel? O índice das vendas no ramo imobiliário, também, foi maior. Nada aconteceu no meu bolso, mais posso afirmar com absoluta convicção que lá fora, mais pessoas, nos últimos dois anos se deram melhor, que nos meus improdutivos oito anos, anteriores. As pessoas podem mudar de partido político ou podem ser desmascarados quando usam máscaras, mas a sua verdadeira ideologia é imutável.

domingo, 8 de novembro de 2009

A Caravana do Cordel – A fênix da literatura popular

Nos anos 60, me lembro muito bem, quando em plena colheita de algodão, os bóias-frias cantavam as músicas sertanejas para espantar o desânimo, infligido pelo calor do sol a pino. Eu era um deles! Às vezes dava uma pausa para retirar um espinho de carrapicho que se infiltrava na minha coxa. Um sol arretado de quente fazia os espinhos saltarem sobre a pele dos pobres bóias-frias. Alguém cantava uma musica de Tonico e Tinoco e outro alguém, algumas ruas de algodão mais adiante, fazia a segunda voz. Eu achava lindo e triste. Lindo porque gostava de uma boa música e triste porque começava a sonha em como evadir-me daquela maldita vida agrária. Ao crepúsculo, todos subiam na carroceria de algum caminhão e retornava a cidade. Uma cidade de uns 16.000 habitantes no Pontal do Paranapanema. Na cidade, a noite, os adolescentes, como eu na época, se reuniam no jardim. A onda era jovem guarda. Musicas caipira, sertaneja ou coisa do gênero não era, nem comentada entre os jovens, a não ser com ares de deboches. Tínhamos vergonha de cantar entre nós, qualquer música sertaneja. Isso não quer dizer que ela não estivesse enraizada em nós. Mas quando surgiu o grupo dos “amigos da música popular sertaneja” – Chitãozinho e Chororó, Leandro e Leonardo e outros, a musica sertaneja caiu, também, nas graças da juventude. A música sertaneja renasceu com toda força e assumiu o seu verdadeiro lugar no cenário musical brasileiro. Os músicos da nova geração sertaneja ficaram ricos e a velha guarda recebeu as honras e o reconhecimento moral. Vejam o caso da famosa dupla sertaneja, Tonico e Tinoco, que envelheceram empobrecidos.
E o Cordel? Pois é! Naquele tempo da minha infância, quase adolescente, minha avó não se cansava de me contar as histórias dos cordéis, tais como: João Acaba mundo e a Serpente negra, O Pavão Misterioso, os três cavalos encantados e outros. O meu vizinho, ex-professor, que bebia muito, em razão de ter sido corneado pela esposa, segundo ele mesmo, vendia livretos de cordéis pendurados em barbantes, no centro da pequena cidade, ainda sem asfalto, sem energia elétrica e sem televisão. O tempo passou e eu me tornei um paulistano na luta pela sobrevivência e o cordel ficou, engavetado dentro do meu ser.
Trabalhando pelas ruas da Capital, eu encontrava os livretos de cordéis em uma única banca no largo do Paissandu. Uma vez ou outra, comprava um livreto para reler e relembrar da minha avó e do pobre corno que nos momentos de sobriedade, viajava nos versos do cordel.
Escrevi e editei dois livros: um romance de 187 páginas que me rendeu algumas palestras em academias de escolas municipais e um livro de contos e crônicas. Foi então que, de repente, surgiu uma pergunta na minha cabeça: “Por que não escreve um livreto de Cordel?” Por quê? Histórias eu já havia criado em prosas e muitas já tinham a cara dos cordéis. Escrevi o meu primeiro cordel. Na mesma semana, nas proximidades da estação metro Jabaquara, eu entro em um sebo e dou de cara com muitos livretos de cordéis. Quem estava batendo papo por acaso com o dono do sebo? O proprietário da editora Luzeiro que comprou a editora Prelúdio que editava os cordéis da minha infância. A conversa foi sem futuro ou quase porque eu pensei em desistir do assunto – editar livretos de cordéis. Mas a cada dia eu percebi a presença de livretos se espalhando pela cidade. Decidi aceitar o convite do editor e visitei a editora Luzeiro, onde fui muito bem recebido. Vi com muita alegria os títulos dos velhos livretos da minha infância na sala de museu da editora. Conclusão: Vai sair o meu primeiro livreto.
Descobri a Caravana do Cordel. Um movimento que começou com sete participantes e vem crescendo e crescendo... Tenho participado de alguns eventos da literatura popular, patrocinado por esse movimento e confesso, estou completamente apaixonado pelo cordel. Cheguei à minha casa um dia, com o cordel na cabeça, ansioso pela demora da edição do meu livreto e sentei-me a mesa:
“Minha esposa querida
Eu acabo de chegar
E estou com muita fome,
Você já fez o jantar?
Como a mulher não estava de bom humor, completou a minha estrofe:
Meu pretenso Cordelista,
Seja mais um realista,
E me ajude a cozinhar.

Na verdade, eu penso que da mesma forma como a musica sertaneja renasceu com toda a força e, assumiu as primeiras posições nas paradas de sucesso, assim pode estar acontecendo com o Cordel no Brasil. E o Cordel envolve, além da “Literatura popular”, a música dos violeiros. Os estudantes das escolas e universidades, cada vez mais, têm demonstrado interesse pela literatura de Cordel. Farei tudo para ser um surfista Cordelista e pegar carona na crista dessa onda.



segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Salomé Parísio - Sonhos de uma vedete

A vedete, cantora e atriz Salomé Parísio, pseudônimo de Dulce de Jesus Oliveira, nasceu em Pernambuco, na cidade de Bonito, em 3 de junho de 1921.É de uma família com oito irmãos, três homens e cinco mulheres, todos cantores. Começou a cantar na Igreja, foi “filha de Maria”, e quase “freira”.Em Recife, PE, começou a carreira na Rádio Club de Pernambuco, onde foi vencedora do programa de calouros. Depois do sucesso em Recife, viajou para Bahia, onde permaneceu por cinco anos e onde nasceu seu único filho. Lá, recebeu um convite para trabalhar no Rio de Janeiro.Gianca de Garcia, diretor artístico do Cassino da Urca, resolveu levar Salomé Parísio ao Teatro de Revista, com todo o elenco da Urca. Mandou buscá-la em Salvador para estrelar a peça “Um Milhão de Mulheres”, estrondoso sucesso de 1947. Naquele teatro, fizeram três revistas.Depois, foi para São Paulo e lá ficou. Trabalhou no Teatro Santana e fez filmes com Mazzaropi. Fez enorme sucesso como estrela-atriz-cantora na revista Prato do Dia, onde dividia o palco com o comediante Colé e Virgínia Lane. O Brasil estava se tornado pequeno para ela. Em 1950, Salomé Parísio excursionou por Portugal e abalou o Cassino do Estoril. Em 1952, de novo o país se dobrou a ela com "Pra Lá de Boa", dirigido por Lulu de Barros. Em 1955, as pernas de Salomé Parísio renderam páginas na Argentina, onde fez longa e milionária excursão. Depois, Salomé Parísio foi para os Estados Unidos (Nova York), onde recebeu um convite para substituir Carmem Miranda. Mas, teve que voltou para o Brasil porque sua mãe ficou muito doente. Salomé largou tudo para cuidar da mãe.De volta, fixou-se em São Paulo, fazendo shows, trabalhando nas rádios Tupi, Bandeirantes, Record e Nacional. Chegou a Nova Iorque em 1960, em grande estilo, no Rádio City Music Hall, dirigida por Carlos Machado. De volta ao Brasil em 1962, estrelou "Um Violinista no Telhado", onde cantou as canções judias. Fez programas de rádio, TV, novelas, outras revistas picantes até 1980, quando recebeu um convite do Antunes Filho para fazer a peça “Macunaíma”. Com o espetáculo viajou por todo o Brasil. Depois, o elenco partiu para o Festival Mundial do Teatro em Nancy, Paris, onde alcançaram o primeiro lugar.Com "Macunaíma", excursionou por doze países. No teatro, Salomé Parísio fez “Violinista no Telhado”, “Dilúvio”, dentre outras peças. Na televisão, atuou na novela “Sangue do meu Sangue”, de Vicente Sesso.Em 1981, uma nova geração a descobriu no histórico musical "Aí vem o Dilúvio". Os freqüentadores das feiras livres e dos supermercados no bairro do Centro, arredores da Igreja da Santa Cecília, em São Paulo, sempre se perguntam quem é aquela exótica senhora sorridente, falante e cheia de bom humor que circula com invejáveis mais de 80 anos e pernas ainda bonitas. Os anos passaram, Salomé, continua trabalhando: dá aulas de canto e regularmente canta a Ave Maria de Gunot em casamentos com sua voz ainda maravilhosa. Vive sozinha em um confortável apartamento no centro da cidade. Seu último show foi uma homenagem 2003 no Teatro Itália, a "Sonhos de Vedete". É a última vedete viva pioneira do teatro de revista brasileiro, ainda em atividade. Todas as outras sobreviventes estão há muito aposentadas: Virginia Lane, Maria Quitéria, Dorinha Duval, Lady Hilda, dentre outras. Salomé diz que, "por ter feito pouca televisão após 1970 sou pouco popular hoje. Preferi viajar o mundo. Nem tudo são flores e tenho muita saudade de meu único filho que morreu jovem", conta, sem entrar em detalhes. Salomé Parísio tem cinco netos e quatro bisnetos.
Fontes: Site Ovadia Saadia; Youtube. SESC.

Recentemente, conheci Dulce (Salomé Parísio), em sua residência.

Trabalho nas ruas de São Paulo a serviço de uma Administradora de Imóveis, no palco de uma das maiores cidades do planeta. Sempre nas ruas, felizmente, visitando prédios e aptos vazios. Às vezes, no Centro, no bairro dos jardins ou na periferia. Hoje estive próximo ao largo do Arouche, na rua Frederico Steidel. Uma pequena rua, dessas que não se deve passar pelas calçadas depois do ocaso. Um só quarteirão, mas ali, se concentra grupos de apreciadores de drogas, catadores de lixos, moradores de ruas, mas também, encontrei o Zé do Caixão que, segundo me informaram, mora em um apartamento de um dos pequenos prédios da rua. A minha vistoria era num apto de um desses minúsculos prédios.
No final da vistoria, o zelador me pediu para subir ao apto de uma senhora, que estava interessada na locação. Após 11 anos, o proprietário pediu para ela, uma senhora de 84 anos, esvaziar o apto. “Oh! Que coisa triste! Vou falar com ela, sim.” Imediatamente, subi e adentrei ao apto da senhora. Ela não estava preparada para receber visitas. Havia um corte sobre o seu lábio superior, mas os olhos pareciam dois espelhos da eternidade. As suas pernas de mais de oito décadas, conservavam um contorno especial, tanto que provocou em mim, um belo pensamento – “essas pernas devem ter sido muito belas”.
Conversa vai e conversa vem, e ela me diz que desejava locar o apto no térreo, para continuar a morar no mesmo prédio. Afinal, foram 11 anos naquela região. “Eu sou atriz e cantora! Salomé, você não se lembrar de mim?”
Fiquei sem graça, pois não me lembrava de nada relacionado a ela. Pensei que ela fosse maluca, mas era muito simpática e muito consciente do que falava. Gostei dela, assim de graça. Talvez pelo jeito dela, ou pela alegria que em certos momentos, eu apreciava nas janelas da sua alma. Ela não parecia um ser comum. Dei-lhe as instruções para tentar viabilizar a locação do apto vazio, e me despedi.
Em casa eu fui direto para o deus Google. Meu Deus! Ela era real! Muitas fotos antigas, reportagens que mencionavam a beleza das suas pernas, quando encantou a argentina. “Eu tinha razão quanto às belas pernas”. Li tudo que havia e assisti a vídeos e fiquei chocado. Aquela mulher não devia estar tentando locar um simples apto, e ainda mais, naquela rua. Deus dá uma vocação - um talento - para uma pessoa brilhar como um cometa de Halley, e então, essa pessoa usa o poder do seu talento para sair do anonimato, salvar a sua família, encantar as pessoas, satisfazer o prazer da sua própria alma e, no final, o seguro da velhice esta vencido. Não há garantia de uma velhice digna para quem viveu pelas leis do seu coração e da sua alma. Para quem usou o coração no lugar do cérebro. Quem nasce com talentos artísticos, esta condenado a ser um escravo do seu próprio talento. Para essas pessoas marcadas pela alma, está fora de cogitação, a luta pela sobrevivência. Pelo menos, seguindo uma das profissões normais do sistema financeiro que garanto, sucesso e realizações rendosas. A pessoa é levada por uma força interna a seguir a sua vocação artística: um caminho árduo e sem garantia de sucesso. Às vezes, o sucesso é pleno e a pessoa pode ser vista como um semideus, às vezes brilha muito e cai no esquecimento, mas na maioria, não se chega a lugar algum e passa-se toda a vida. Uma vida toda correndo atrás de exteriorizar algo que jamais encontra um espaço para atuar.
Quando um filho nasce com inclinações, definidas, para a construção de prédios, a sua vida é uma estrada reta, limpa e sem barreira. Pode-se afirmar com absoluta convicção, e de antemão: “Ele será um engenheiro.” É só seguir todas as etapas já definidas e conhecidas até ser diplomado. Mas o seu filho não gosta de nada que não tenha um palco! O que você pode garantir para ele? O talento será tão especial que o levará ao sucesso de qualquer forma? Na verdade, ter algum talento artístico, é a certeza de caminhar, tateando, sobre uma estrada escura, para um futuro incerto.

Voltei ao lar de Salomé.

Duas semanas depois, voltei ao apto de Dulce para informar-lhe que o tal apto vazio foi alugado; que eu lamentava por ela não ter conseguido locá-lo. Ela abriu as portas com a mesma simpatia de antes. Disse-lhe, que sabia quase tudo sobre ela, porque pesquisei na internet. Ela reagiu com surpresa - Internet? Sim, minha querida! Você esta na internet; a sua vida esta na internet!
Dulce nunca navegou na internet e não possuía computador. Dessa vez a conversa foi mais longa e interessante. Ela me contou muitas coisas, mas só ficou triste quando contou da última vez que pisou no palco.
Ela ainda trabalhava, apesar dos seus 84 anos, mas havia sofrido um acidente onde cortou o lábio superior, impedindo-a de cantar. Faria uma cirurgia de reparação para breve. Dulce se acomodou no velho sofá e começou a falar: “Eu fui ao restaurante para apresentar a minha peça: “Sonho de uma vedete”. Um teatro adaptado num espaço reservado de um restaurante do bairro Santa Cecília. Levei as minhas roupas de trabalho e encontrei as companheiras de palco. Elas estavam sem ânimo porque havia 8 pessoas que havia comprado os convites. “Vamos apresentar para as oito pessoas” – disse as minhas companheiras - mas elas convenceram a responsável pelo espaço, a cancelar o espetáculo. Eu já estava vestida, fui a frente e expliquei para aquelas pessoas, que voltassem com os seus convites no próximo espetáculo, mas que, antes, eu cantaria uma música para eles. O pianista deu a introdução e eu comecei a cantar. Pensei na minha vida passada, como os portugueses ficaram encantados comigo, os argentinos, e o público de tantos países... Lá em Pernambuco quando perdi o noivo, porque fui cantar na radio e ganhei o concurso. Como depois daquele concurso tudo mudou e eu consegui ajudar a minha família. Quanto glamour!
Agora, depois de oito décadas da minha vida, eu canto para oito pessoas. Vi de relance que as minhas companheiras passavam pelos fundos em retirada, e a voz fraquejou. Meu Deus! Senti que iria desmoronar ali no palco, no exato momento em que percebi na parede um quadro de um santo. As lágrimas insistiam em sair e os olhos do santo pareciam brilhar. Aproximei da parede e firmei as duas mãos sobre o quadro até terminar de cantar. As lágrimas rolaram de vez, sobre o aplauso das oito pessoas. Aos meus ouvidos, soaram como aplausos de uma multidão.
Salomé me contou tudo isso, ou foi o que eu entendi e guardei na memória, e não resistindo as lágrimas, mais uma vez. Ela foi ao quarto e trouxe o seu “DVD – Documentário”, para presentear-me. Abraçamos fortemente, levados pelo clima do instante. Eu a deixei com as suas lembranças e os seus troféus, que decoravam uma mesa no canto da sala.

domingo, 1 de novembro de 2009

Dia 19 é o dia do Cordel

O dia 19 de novembro é o dia do Cordel. O grupo de Cordelista que forma a “Caravana do Cordel” realizará eventos de comemoração a literatura de Cordel nesse mês. Sábado aconteceu o encerramento da festa do segundo salão da Literatura de Cordel. “É um mundo de cordel para todo mundo”. Frase dos cordelistas da Caravana do Cordel.

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